terça-feira, 30 de outubro de 2012

CACOS E ALMA

                                                         -SALVADOR DALI-                                                  -  GALATEIA DAS ESFERAS-
Catando os Cacos do Caos

Catar os cacos do caos
como quem cata no deserto
o cacto
- como se fosse flor.

Catar os restos e ossos
da utopia
como de porta em porta
o lixeiro apanha
detritos da festa fria
e pobre no crepúsculo
se aquece na fogueira erguida
com os destroços do dia.

Catar a verdade contida
em cada concha de mão,
como o mendigo cata as pulgas
no pêlo
- do dia cão.

Recortar o sentido
como o alfaiate-artista,
costurá-lo pelo avesso
com a inconsútil emenda
à vista.

Como o arqueólogo
reunir os fragmentos,
como se ao vento
se pudessem pedir as flores
despetaladas no tempo.

Catar os cacos de Dionisio
e Baco, no mosaico antigo
e no copo seco erguido
beber o vinho
ou sangue vertido.

Catar os cacos de Orfeu partido
pela paixão das bacantes
e com Prometeu refazer
o fígado
- como era antes.

Catar palavras cortantes
no rio do escuro instante
e descobrir nessas pedras
o brilho do diamante.

É um quebra-cabeça?
Então
de cabeça quebrada vamos
sobre a parede do nada
deixar gravada a emoção

Cacos de mim
Cacos do não
Cacos do sim
Cacos do antes
Cacos do fim

Não é dentro
nem fora
embora seja dentro e fora
no nunca e a toda hora
que violento
o sentido nos deflora.

Catar os cacos
do presente e outrora
e enfrentar a noite
com o vitral da aurora


 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

MARGUERITTE YOURCENAR




FRAGMENTOS DE MARGUERITE YOURCENAR(AUTORA DE "MEMÓRIAS DE ADRIANO)














































segunda-feira, 15 de outubro de 2012

MUDAR O OLHAR


                                          (ESCOLHA O SEU OLHAR)  
ROBERTO CREMA

Mudar o mundo,

 é mudar o olhar.

 Do olhar que estreita e subtrai,

 para o olhar que amplia e engrandece.

 Do olhar que julga e condena,

 para o olhar que compreende e perdoa.

 Do olhar que teme e se esquiva,

 para o olhar que confia e atreve.

 Do olhar que separa e exclui,

 para o olhar que acolhe e religa.

 Todos os olhares

 num só Olhar.

 O olhar da inocência

 e o olhar da vigilância.

 O olhar da justiça

 e o olhar de misericórdia.

 Todos os olhares

 num só Olhar.

 Olhar de criança que brinca,

 na Primavera,

 Olhar do adulto que labora,

 no verão,

 Olhar maduro que oferta,

 no Outono,

 Olhar de prece e de silêncio,

 no Inverno.

 O olhar de quem nasce,

 o olhar de quem passa,

 o olhar de quem parte.

 Olhares da existência no Olhar de Essência.

Todos os olhares

 num só Olhar.

 Dançar de roda na órbita do olhar,

 dançar de guerreiro em volta da fogueira do olhar,

 dançar de Ser no olhar do Amor.

 Dançar e brincar de olhar.

 Olhar o porvir,

 do instante que nasce,

 no coração palpitante

 da transmutação.

 Viva o novo olhar!

Olhe a vida de novo!

 Novo olhar, novo viver!

 Mudar o mundo

 É mudar o olhar.

 É alto olhar,
Altar do olhar.

 É ousar viver,

 É viver no ousar.

 É amar viver,

 É viver para amar.

 Só então partir,

 Para o Grande Olhar.
Todos os olhares

 num só Olhar.
Num mesmo Olhar.

 Supremo Olhar.
Olha."
Roberto Crema

domingo, 7 de outubro de 2012

CECILIA MEIRELES E OS SONHOS




Pus o meu sonho num navio

CECÍLIA MEIRELES

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos
ainda estão molhadas
do
azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará
perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

SONHO

 
Adélia Prado
"O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre."