sábado, 29 de janeiro de 2011
Obra de Portinari.
UM OLHAR SOBRE O PASSADO
Eliana Miranzi
Tenho uma profunda reverência ao passado. À história de nossos antecessores. Dos antepassados de toda a humanidade, não importa a cultura, a geografia, a crença, raça ou etnia. Também aos locais onde se pode ver e sentir a nossa herança. Aos objetos e obras que nos remetem ao passado.
Não sou saudosista. Não vivo no passado. Minha cabeça está bem em cima de onde estão plantados meus pés. No presente. Mas considero que temos por dever e obrigação respeitar, conhecer, reverenciar e honrar o que veio antes de nós.
Nossa herança humanitária não se encontra só em locais históricos ou em museus. Nossa herança corre em nossas veias. Faz parte de nosso DNA. Compõe-nos, constrói-nos. É leviano ignorar tudo isso. É preciso reconhecer, acolher, estudar sem julgamentos ou críticas tudo aquilo que nos precedeu. Além de tudo isso, temos por obrigação refletir sobre essa nossa herança, sobre cada um de nossos antecessores, assim como os de outros povos, perdoando caso necessário, acolhendo e agradecendo. Pois de qualquer maneira, um enorme legado nos foi deixado. E faz parte de nossa honra, dignidade e espírito humanitário, preservar essa herança, cultivá-la, e, mais que isso, passar para nossos descendentes todas as nossas histórias.
O ser humano que se inteira de suas origens e as acolhe com respeito e gratidão encontra paz em seu interior, pois são nossas raízes que lá estão; é de lá que sai a seiva que dá alento às árvores que são nossas vidas, com seus galhos, folhas, frutos e flores, isto é, nossos destinos e nossa descendência, a marca que realmente sinaliza nossa passagem por este planeta. A partir daí, esta passagem jamais terá sido em vão.
Um ser humano não se torna inteiro, um só todo, completo e harmonizado em mente, espírito e corpo, razão e sentimento, se não puder ser como uma árvore com todas as suas partes. Saímos de uma semente, e são sementes que por aqui deixamos – a semente do conhecimento de onde viemos, quem somos e porque assim o somos. E só desta maneira seremos capazes de “fazer a diferença”, de “tocar o outro”, de deixar nosso carimbo em nossas realizações.
Em pessoas inteiras a alma é viva, há luz interior e conteúdo; reconhecemos o sagrado, o divino, através de olhos luzentes, sentidos alertas e generosidade abundante em relação ao que os rodeia. A vida faz sentido a partir do contato com nossa essência mais profunda.
E, sim, nossa passagem por este planeta só faz sentido quando, ao partir, as sementes que tivermos por aqui deixado tenham sido fecundas e sadias, intrinsecamente comprometidas com a vida humana e com o planeta. E é isso o que devemos ter em mente nesta nossa caminhada. (01/05/2008).
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