sexta-feira, 2 de março de 2012

O CORPO


O HOMEM VITRUVIANO- LEONARDO DA VINCI

O Corpo Em Que Eu Habito: Ouvir e Escutar

Existe relação entre a maneira como você habita o seu corpo e a forma como leva a vida? A resposta é sim. Com o corpo, você sofre e goza. Com ele você expressa o seu desejo, o seu medo, revela seu carinho, denota sua tristeza e todas as suas percepções, sensações e emoções. O corpo ainda supre todas as suas necessidades.
Não existe nada nesta vida que não passe pelo corpo. Nenhum sentimento, pensamento, sonho, projeto, criação ou realização existe sem o corpo. Isso posto, o enigma é: você pertence ao corpo, ou o corpo te pertence?
A história de nossas vidas está inscrita em nossos corpos. É no período desde a vida intra-uterina ate o final da puberdade que essa inscrição é feita. Essa é uma época de intenso desenvolvimento neuroafetivo, que dá forma ao nosso corpo, sinalizando como iremos agir e reagir, para assim definir uma parcela da nossa personalidade. É importante deixar claro que uma parte da personalidade é fruto da genética ( tem base congênita e constitucional) e traduz nosso temperamento. Enquanto a outra parte de nossa personalidade, como disse, desenvolve-se dentro das etapas neuroafetivas, que tem a ver com o amadurecimento do sistema emocional afetivo, e ainda do nosso comportamento e caráter.
Dependendo do lugar onde nos colocamos na vida como observadores podemos olhar o ser humano e suas etapas evolutivas de desenvolvimento em diversos aspectos. Os cinco órgãos dos sentidos ( audição, olfato, visão, paladar e tato), por exemplo, são responsáveis pelas suas sensações, percepções e emoções. Assim, ao conhecer a funcionalidade de cada órgão, você terá a oportunidade de habitar o seu corpo com mais sensibilidade e intuição. E conhecer melhor a sua história e a do seu corpo.
Por isso, convido você a olhar como foi o desenvolvimento dos seus órgãos dos sentidos para identificar a partir de que momento eles começaram a funcionar, e o que os leva – em alguns casos – a serem disfuncionais.
Assim, com a intenção de incentivar a sua leitura corporal como um livro de estudo que conta toda sua história emocional e afetiva, apresentarei aqui ( e nas próximas colunas) uma cartilha de alfabetização emocional para que você possa auto-educar o seu sentimento .
Para dar início, vou abordar a audição. Começando por suas funções somáticas e psíquicas até como podemos usá-la a nosso favor nas ricas e complexas formas de expressões.
O corpo que habitamos merece atenção especial e respeito. Sugiro ouvir mais, escutar mais, e prestar mais atenção ao seu corpo toda vez que sentir algo. Tente, caso seja possível, sempre verificar de que lugar do corpo o sinal de alerta está ressoando. E por falar em soar e ressoar, vamos ao ouvido…
Ouvido
O funcionamento do ouvido começa por volta dos quatro meses de vida intra-uterina. A partir daí, o feto já percebe os batimentos cardíacos da mãe e a sua a voz ,assim como os ruídos mais intensos do exterior. Os sons percebidos na vida fetal são filtrados pelo líquido amniótico. O ouvido passa a ser, então, o órgão de choque nesta etapa, sempre identificando sinais de perigo ou ameaça à sua sobrevivência. Desta forma, o ouvido funcionará como um recurso de defesa e proteção contra o perigo. Antes desta fase o embrião se defende somente por meio de suas células. A medida que ele vai se desenvolvendo, acontece a maturação neurológica, e assim o sistema nervoso vai se ampliando e ligando circuitos de funcionamento e defesa cada vez mais sofisticados.
O som é uma vibração energética. Podemos percebê-lo tanto como uma melodia gratificante, quanto como ruído frustrante. Assim um bloqueio no ouvido, poderá ter grande relevância e se expressará no comportamento de uma pessoa. Aquelas que só ouvem o que querem, por exemplo, podem ter sofrido algum bloqueio do ouvido. E ao se recusar a ouvir e escutar o que não lhes é considerado relevante, tornam-se surdas no sentido de bloquear a fluidez da comunicação. Essas pessoas mostram-se muitas vezes pouco receptivas ao mundo, lhes falta contato satisfatório com a realidade e em alguns casos vivem em estado de isolamento. É como se sua audição estivesse comprometida e seu ouvido não exercesse esta função. Apesar da inexistência de uma doença orgânica congênita, essa pessoa tem uma doença funcional, que pode ter sido ocasionada por uma perturbação que ela teve na vida fetal quando filtrava os perigos que vinham do mundo lá de fora através de seu ambiente útero/mãe.
O modo de receber o que está fora de nós, os outros e o mundo, e de aprender a se comunicar com ele está diretamente ligado ao ouvido e a forma como ele funciona.
Como se sabe todas as doenças inflamatórias e infecciosas (otites) podem deteriorar a audição. Algumas ansiedades, hostilidades, sentimento de perda de equilíbrio e de controle, físico ou emocional, estão ligados ao bloqueio do ouvido. Assim, é fundamental estimular esta zona pra ativar a percepção e atenção da pessoa, para que o ouvido deixe de ser passivo e disfuncional, e possa receber e responder às suas próprias necessidades básicas e a própria realidade.
Sugiro a todos ouvir mais, escutar e sentir o corpo. Boa semana a todos!

Mary Jane
Mary Jane A. Paiva é psicoterapeuta e analista Reichiana. Professora e diretora Psicopedagógica da Sociedade de Orgonomia e Vegetoterapia Caracteroanalitica de São Paulo (Sovesp) .Lecionou por quatro anos no curso de pós-graduacao Lato Sensu de dinâmicas corporais como expressões terapêuticas na faculdade Senac. E por onze anos no curso de formação em Psicologia Reichiana no Sedes. Formada em Psicologia Reichiana (pelo Instituto Sedes Sapientae, em 1980); em Vegetoterapia (pela Sovesp) e em psicoterapia de grupo pela E.S.T.E.R (Escola Espahola de Valência, Espanha) e S.I.A.R(Escola Italiana de Analise Reichiana, Italia).

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