quarta-feira, 2 de março de 2011

HISTÓRIAS DE QUINTINO




RETALHOS DE HISTÓRIAS E DE SONHOS

“Os seres humanos estão em uma viagem de percepção que tem sido momentaneamente interrompida por forças exteriores. Acredite em mim, nós somos criaturas mágicas de percepção. Se não temos tal convicção, não temos nada.”
Dom Juan / Carlos Castaneda – Passes Mágicos p.37.


Por que retalhos?
Porque das muitas histórias ouvidas na infância, foi só o que sobrou na memória: fragmentos, retalhos.
E os sonhos...?
Ah os sonhos!
Estes então...
Jorge Luis Borges diz ‘que o empenho de modelar a matéria incoerente e vertiginosa de que se compõem os sonhos é o mais árduo que pode empreender um homem, ainda que penetre todos os enigmas da ordem superior e da inferior: muito mais árduo que tecer uma corda de areia ou amoedar o vento sem efígie.’
Por isso, tudo que eu posso apresentar são apenas fragmentos, retalhos que vou juntando. Estou fazendo como faz a costureira, que com paciência junta pequenos retalhos de diferentes tecidos e com eles faz uma colcha.
Assim vou juntando pequenos retalhos de histórias da infância com pequenos pedaços de sonhos e formando uma colcha de histórias. Retalhos de histórias com retalhos de sonhos, depois de costurados, não dá mais para saber o que são uns e o que são outros.
As histórias vem de muito, muito tempo atrás, “quando ainda não existia televisão no mundo”. Todo começo de noite, antes de dormir, a meninada reunia-se para as últimas diversões do dia. Alguma brincadeira de roda ou então para ouvir os casos de ‘tio Agustinho’. Não sei por que, mas quase sempre o herói das histórias tinha o nome de Joãozinho. Joãozinho fazia e acontecia. Era sempre o mais esperto, mais justo, mais valente e sempre que tinha uma disputa ganhava e acabava casando com a filha do rei.

A história que agora reconto, tio Agustinho me contou recentemente, mas só me deu pedaços da história, alegando que já não se lembrava do causo todo e que ele estava só ilustrando uma situação sobre a qual conversávamos.
Resolvi então ‘costurar’ neste grande retalho de história recebido de meu tio Agustinho alguns outros retalhos de sonhos. Esta é a segunda ‘costura’ de histórias que apresento ao grupo. Para quem não se lembra a primeira foi a de Falaico e de Selene.

História do Joãozinho que matou a avó

Era uma vez um rapaz chamado Joãozinho.
Rapaz muito novo. Na verdade, quase um menino ainda.
Joãozinho encontrava-se numa situação insustentável para seu pouco tempo de vida neste vasto e misterioso mundo.
De sua família restou apenas ele e uma avó idosa, doente e ranzinza, que exigia dele muito trabalho e cuidado.
Depois de algum tempo labutando para cumprir tal sina, Joãozinho chegou ao limite humano. A vida estava sendo muito cruel. Não só não lhe tinha dado nada, como sobrecarregou-lhe os ombros com uma herança por demais pesada.
E num momento de revolta e desespero, Joãozinho sucumbiu ao destino. Num ato de desatino cometeu o maior dos sacrilégios – pôs fim aos dias de existência da única raiz que ainda lhe restava no mundo: matou sua avó.
Passado um pouco da loucura que o acometera, concluiu que nada mais restava senão aceitar que acabara de repetir o mesmo ato do primeiro homem nascido na terra, Caim ao matar seu irmão Abel. Por certo seu destino não seria muito diferente do primeiro assassino do mundo. E tal como este, abandonou o rancho em que vivia com a avó e pôs-se a vagar mundo afora.
Após andar por caminhos desertos, sem ver uma só viva alma o dia todo, já à boca da noite, chegou a uma casa. Como é o costume das pessoas do interior, bateu palmas e chamou alto:
– Ô de casa!
O dono da casa, também como é comum, sem abrir a porta, perguntou:
- Quem chama?
E para surpresa de Joãozinho, assim que fez menção de responder, uma voz, vinda não se sabe de onde, menos ainda de quem, respondeu em seu lugar:
– É o Joãozinho que matou a avó!
Assustado, não esperou qualquer resposta do morador e mais que depressa fugiu estrada afora. Passou a noite ao relento, atormentado pela idéia de estar amaldiçoado ou de ter ficado louco.
No dia seguinte pôs-se a caminho afastando o mais que pode daquele lugar. Só ao por do sol foi que avistou outra casa novamente. Cansado e vencido pela fome, aproximou-se da casa, bateu palmas e chamou:
– Ô de casa!
Como da vez anterior o morador indagou:
– Quem chama?
Joãozinho sentiu um arrepio na espinha, o coração disparou, a garganta secou e a língua travou e antes que pudesse dizer uma só palavra, a voz, vinda não se sabe de onde, dita não se sabe por quem, respondeu em seu lugar:
– É o Joãozinho que matou a avó!
Saiu em desabalada carreira novamente. Outra noite ao relento tendo por companhia o tormento da maldição.
No final do terceiro dia de sua desventura chegou a uma terceira casa. Nova tentativa de pedir ajuda e novamente a voz da maldição respondeu em seu lugar. Definitivamente, estava amaldiçoado.
Convencido de que jamais poderia esconder seu crime e que estava condenado para sempre, a carregar aquela maldição para qualquer lugar para onde fosse não lhe restou outra escolha, senão evitar aproximar-se de alguém.
Passou a viver como bicho do mato. Arranchou-se como pode nas proximidades de um rio e ali passou a viver sua sina. Comia o que encontrava pelo mato e a noite protegia-se como dava. Já tinha passado um bom tempo que estava vivendo ali daquele jeito. Já estava até se conformando com tal destino.
Certo dia avistou na barranca do rio uma mulher com uma criança de colo e uma grande trouxa de bagagem. A mulher tentava atravessar a forte correnteza do rio. Caso ela entrasse na água carregando a criança e aquela bagagem seria morte na certa. Esquecendo-se da maldição, Joãozinho correu na direção da mulher impedindo que ela cometesse o desatino de atravessar o rio sem ajuda.
Depois que pôs as duas vidas a salvo do outro lado do rio, Joãozinho perguntou à mulher se ela conhecia algum morador por aquelas bandas, onde ele pudesse encontrar trabalho e moradia. A mulher respondeu que o único morador de que tinha notícia naquele sertão, era de um homem que vivia um dia de caminhada rio acima.
Animado com os novos acontecimentos, Joãozinho agradeceu a informação e imediatamente pôs-se a caminho. No final do dia, tal como a mulher havia informado, encontrou a casa. Aproximou-se e para sua surpresa a voz da maldição ficou muda. Explicou ao dono da casa de que era sozinho no mundo e que procurava trabalho e moradia.
O pequeno fazendeiro disse que trabalho e moradia ele podia arrumar, mas que não tinha dinheiro para pagamento. Joãozinho respondeu que tudo o que necessitava era de comida e pouso. E assim ficou combinado entre os dois.
No dia seguinte o fazendeiro mostrou a Joãozinho a tarefa a ser realizada na propriedade: limpar uma quadra de terra. Era coisa pouca. Não mais que um dia e meio de trabalho.
Animado com o novo rumo que sua vida tomava, Joãozinho trabalhou o dia todo e como havia calculado, ficou apenas pouca coisa para o dia seguinte. Duas ou três horas de serviço no máximo. Voltou para casa e depois de muito tempo, teve uma noite de sono tranqüilo.
No outro dia, bem cedo, saiu para terminar logo o restante do serviço do dia anterior. Levou o maior susto quando chegou no terreno. A quadra de terra estava igualzinha ao dia anterior, como se ninguém tivesse trabalhado ali. Todo o serviço que havia feito, tinha desaparecido. A terra estava como se ele não tivesse dado uma única enxadada.
Refeito do susto e já se acostumando com acontecimentos estranhos em sua vida, pôs-se a trabalhar. No final do dia, já muito cansado, restou apenas uma pequena nesga de terra a ser limpa. Voltou para casa, já não mais tão tranqüilo como no dia anterior, mas estava convencido de que estava no caminho certo.
No terceiro dia de trabalho, aconteceu a mesma coisa. Como se ali ninguém houvesse trabalhado antes. Sem compreender o que estava acontecendo, mas certo de que as coisas seguiam o rumo que deviam seguir, trabalhou o dia todo, como se já não soubesse de antemão o resultado de sua lida.
O fazendeiro, homem de pouca conversa, nada perguntava a respeito de seu trabalho e ele, Joãozinho, achou por bem deixar as coisas seguirem seu curso natural. E assim ficou muito tempo lutando com o trabalho na quadra de terra. Dia após dia trabalhava sem ver nenhum resultado diferente.
Nunca conseguiu vencer a tarefa em um só dia. Sempre ficava um pouquinho para o dia seguinte e a cada novo dia era como se fosse o primeiro dia de trabalho.
Depois de um bom tempo ali vivendo. No fim de um determinado dia, o fazendeiro disse a Joãozinho que estava satisfeito com seu trabalho, mas que daquele dia em diante não necessitava mais de sua ajuda na fazenda. Mas caso ele julgasse ser capaz de executar uma difícil tarefa, faria um novo acordo com ele.
Tratava-se de uma longa viagem, que Joãozinho teria que fazer para levar uma carta do fazendeiro a sua mãe. E passou a falar sobre o caminho para chegar a casa de sua mãe.
Era um caminho cheio de desafios pelos quais Joãozinho teria que passar. Caso não vencesse algum dos desafios, jamais chegaria ao destino final e poderia mesmo, perder a vida nesta viagem. Caso ele aceitasse a tarefa, ao voltar, o fazendeiro o recompensaria de alguma forma.
Sabendo que seu tempo ali terminara e não sabendo o que poderia encontrar pela frente, caso não aceitasse a nova tarefa, Joãozinho aceitou fazer a viagem, mesmo com todos os perigos que correria.
O fazendeiro disse então a Joãozinho, que para atingir o objetivo de chegar à casa de sua mãe, ele não poderia deixar envolver-se por nenhuma outra situação que encontrasse pelo caminho. Ele teria que ter toda atenção no que estaria fazendo: uma viagem. A finalidade de toda viagem é chegar a um determinado lugar. Quem se esquece desta finalidade não chega a lugar nenhum, apesar de muito caminhar. Que ficasse atento durante a viagem, pois haveria perigos pelos quais teria que passar.
E assim instruído pelo fazendeiro, no outro dia bem cedo, aos primeiros sinais do nascer do dia, Joãozinho tomou o rumo da estrada.
Estava animado com sua nova aventura, mas bem no fundo de sua alma, o sentimento de ter matado a avó ainda o corroia por dentro. Seu mais profundo desejo era poder limpar-se daquele pecado. Se houvesse alguma coisa que ele pudesse fazer para recuperar a vida da avó, estava disposto a fazer, não importava o quanto fosse difícil. Naquele momento o que ele mais queria era reatar a ligação com sua ancestralidade, que num acesso de loucura ele havia destruído. Assim pensando, assim sentido, Joãozinho seguiu viagem.

Encontro com o menino pagão.

Depois de andar um bom trecho de estrada. O sol já havia passado do meio do céu, Joãozinho sentou-se a beira do caminho sob a sombra de uma árvore para comer e descansar um pouco. Tão logo terminou de comer, ouviu barulho de alguém andando no mato ali por perto.
Avistou um menino de uns oito ou dez anos, que recolhia lenha pelo mato. Já tinha apanhado um grande feixe de lenha, com o qual lutava para carregar. Não podendo com o peso do feixe de lenha, o menino o deixava no chão e voltava a andar pelo mato em busca de mais lenha, que juntava à carga com a qual já não podia. Fazia nova tentativa de levantar o feixe de lenha, não conseguindo ergue-lo, deixava o no chão e saia em busca de mais lenha. Nova tentativa de carregar o feixe. Gemia, cambaleava de tanto fazer força e nada de poder com a carga.
Aquilo era muito estranho. Não dava para entender como o menino não percebia a incoerência de seus atos. Ele já não podia com a carga que possuía e ao contrário de procurar aliviar o peso, ele acrescia mais peso ainda. Dava tristeza ver alguém agindo de tal forma.
Joãozinho já estava para levantar e dar conselhos ao menino, quando lembrou-se das recomendações do fazendeiro. E de que o homem havia falado que ele encontraria ‘o menino pagão’, uma alma prisioneira do sofrimento. Aquela cena só poderia ser um dos desafios pelos quais ele teria que passar. Então compreendeu que naquele caso, nada poderia ser feito para ajudar aquela alma. Somente ela, por si mesma, teria que chegar a compreensão do que fazia a si mesma. Não havia ninguém infligindo sofrimento a ele, a não ser o próprio. Somente ele poderia parar de causar tanto sofrimento a si próprio.
Compreendeu que só é possível ajudar alguém quando a pessoa não age como aquele menino, que ao invés de aliviar o excesso de peso de sua carga, acaba acrescentando mais peso ainda. Aprendida a lição, Joãozinho, seguiu seu caminho.

Encontro com os homens-pedra.

No segundo dia de viagem, após parar novamente sob a sombra de uma árvore para comer e descansar, Joãozinho acabou dormindo. Depois do ocorrido já não sabia mais afirmar se tudo não tinha passado de um sonho ou se realmente tinha tido um encontro com dois seres que eram meio humanos e meio pedra.
Fato é que, tivesse sido sonho ou não, com toda certeza, a experiência pela qual acabara de passar, tratava-se de mais um dos desafios de sua jornada.
Os seres com os quais Joãozinho encontrou, eram uma espécie de opostos complementares como se fossem assim: direito-esquerdo, começo-fim, dentro-fora, vai-vem, sobe-desce, quente-frio, longe-perto, tudo-nada, cedo-tarde, doce-amargo, claro-escuro, calmo-agitado, alegre-triste e assim por diante.
Um era confiável, sereno, justo, pacífico, o outro vingativo, irritado e violento. Eles não eram humanos, mas possuíam a forma humana e não se sabe por que, mas sofriam de uma maldição que estava aos pouco transformando os em pedra.
O ‘lado’ irritado-escuro-violento acusou Joãozinho de ser o responsável pela maldição a qual estavam condenados. Afirmava que se eles matassem Joãozinho, esmagando sua cabeça, iriam livrar-se da maldição.
Joãozinho sabia que havia feito besteiras na vida, mas aquela acusação era injusta. Era uma situação semelhante a que se conta sobre as charadas da esfinge – decifra-me ou te devorarei!
Para provar que era inocente naquele caso e que ter sua cabeça esmagada não livraria os ‘homens-pedra’ da maldição, Joãozinho perguntou ao seu acusador se ele sabia como a maldição havia começado. O ‘homem-pedra’ pensou... pensou... e não soube responder. Então Joãozinho concluiu: já que ele não sabia como a maldição havia começado, ele também não poderia saber como por fim a mesma. Portanto, afirmar como estava fazendo, que com sua morte iria resolver o problema da maldição, não era verdade. O ‘homem-pedra’ pacífico-justo-sereno concordou com Joãozinho e deixou que ele seguisse seu caminho em paz.

Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento.

No terceiro dia de viagem ao passar por um bosque, Joãozinho avistou muitas árvores com lindos frutos. Ele não conhecia as árvores, mas os frutos pareciam muito saborosos. Não sabendo quantos dias mais duraria a viagem e sua matula já estava com pouca comida. Achou que pudesse resolver a questão da comida enchendo sua capanga com aqueles frutos, poupando assim a pouca reserva de comida de que dispunha.
Mas nem tudo que reluz é ouro. Ao provar os frutos, apesar da boa aparência, eles tinham sabor desagradável, era praticamente impossível comê-los. Joãozinho não teve outra alternativa a não ser alimentar-se apenas do que dispunha.
Este fato o fez lembrar-se de uma história que sua velha avó costumava contar, que segundo ela, quando Jesus andou pelo mundo, teria contado – Numa festa de casamento, as moças convidadas eram responsáveis pela manutenção das lamparinas quando chegava a noite. E aí aconteceu que numa certa festa, parte das moças eram previdentes e providenciaram azeite suficiente para suas lamparinas para queimar a noite toda e parte das moças eram imprudentes e não providenciaram azeite para a noite toda. Aconteceu do casamento atrasar e quando a festa estava para começar suas lamparinas já não tinham mais azeite. Foram então pedir azeite para as moças previdentes. Estas responderam que não podiam dividir o azeite com elas, porque dispunham apenas o suficiente para suas lamparinas e se o dividissem, todos acabariam no escuro. Que as imprudentes fossem então comprar azeite no mercado. Tão logo saíram a festa começou e a porta fechou-se. Quando voltaram já não puderam mais entrar para a festa.
Por pouco Joãozinho não cai na situação das moças imprudentes. Uma vez iniciada a jornada não havia outra fonte de recurso a não ser a que ele havia providenciado aos sair de casa. Por isso teve que administrar muito bem os recursos que possuía.
E assim em cada acontecimento durante sua viagem ele aprendia mais e mais.

Pra encurtar a história...

Foram muitas e muitas as provas pelas quais Joãozinho teve que passar e em cada uma delas uma lição aprendida.
São tantas que se fosse falar de todas levaria dias contando. Por isso conto hoje apenas três. Um outro dia talvez eu possa contar outras.

Para terminar...

Após caminhar dias, até perder a conta, e passar por todas as provas, finalmente, Joãozinho avistou uma casa, que pela descrição do fazendeiro, só podia ser a casa que procurava.
Chamou na porta e quem atendeu foi uma senhora idosa, porém com muita vitalidade. Era a mãe do fazendeiro.
Joãozinho apresentou-se e entregou a carta para a mulher, que o convidou a entrar. Certamente ele estava cansado e com fome.
Era verdade, Joãozinho estava para cair de tanta fome. Em nenhum dia de sua caminhada tinha sentido tanta fome como naquele dia.
A mulher disse para Joãozinho sentar que ela iria trazer a comida. Joãozinho mal podia esperar. Então ela pôs sobre a mesa umas três ou quatro panelinhas tão pequenas que cabiam no máximo umas três colheres de comida em cada uma.
Joãozinho não disse nada, mas pensou que só aquele pouquinho de comida não mataria sua fome. Mesmo assim virou todo o conteúdo das panelinhas no prato que mal deu para chegar ao meio. Começou a comer e quando já estava para terminar o meio prato de comida, viu então que as panelinhas estavam cheias novamente, como se ele não as tivesse esvaziado. Virou todo o conteúdo novamente no prato, mal chegou ao meio, voltou a comer. Quando já estava terminando de comer o outro meio prato e ainda tinha fome, olhou e as panelinhas estavam cheias novamente. Assim comeu até não ter mais fome e as panelinhas continuavam cheias.
No outro dia Joãozinho levantou cedo e já se preparava para fazer a viagem de volta. A mãe do fazendeiro lhe disse que não se preocupasse com o retorno. Que na verdade seu filho morava ali bem pertinho. Joãozinho ficou sem entender a afirmação da mulher, já que ele caminhará tantos dias para chegar ali.
Então a mãe do fazendeiro o conduziu até o fundo do quintal, abriu um portãozinho e mostrou a casa de seu filho a poucos metros de distância.
Joãozinho retornou à casa do fazendeiro e este lhe disse que conforme o prometido iria recompensá-lo por haver feito a viagem com sucesso.
Levou Joãozinho a uma sala cheia de objetos antigos e valiosos. Disse que ele podia escolher qualquer um daqueles objetos como pagamento. Joãozinho ficou horas olhando os objetos. Cada um mais bonito que o outro, mas nenhum lhe parecia adequado. Finalmente encontrou um pequeno objeto que lhe pareceu interessante. Não era nada grandioso. Era uma antiga vasilha usada para por rapé. Joãozinho pegou o objeto examinou, examinou. Não sabia dizer por que, mas era aquele objeto que ele queria.
Então uma vez mais os mistérios deste mundo se manifestaram, assim que Joãozinho limpou e abriu a vasilha, sua avó saltou de lá vivinha novamente.
Joãozinho ficou muito contente e agora depois de ter vivido tantas experiências encontrava-se preparado para lidar com sua herança. Construiu uma casinha par si e sua avó e passou a viver de forma sábia e feliz.


“Passou no pé do pinto,
passou no pé do pato.
Quem souber mais,
que conte três ou quatro.”


Quintino de Sousa Martins
Aprendiz de contação de histórias.
Fevereiro de 2011 / Lua cheia.

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