terça-feira, 29 de novembro de 2011

O MENINO E A POESIA





ESTE LIVRO É DEFINITIVO...
ETERNO...

Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry

O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante....
- Bom dia - disse o príncipe.
- Bom dia - disse a flor.
- Onde estão os homens? - Perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
- Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
-Adeus - disse o principezinho.
-Adeus - disse a flor.O pequeno príncipe escalou uma grande montanha. As únicas montanhas que conhecera eram os três vulcões que batiam no joelho. O vulcão extinto servia-lhe de tamborete. "De uma montanha tão alta como esta", pensava ele, "verei todo o planeta e todos os homens..." Mas só viu pedras pontudas, como agulhas.
- Bom dia! - disse ele ao léu.
- Bom dia... bom dia... bom dia... - respondeu o eco.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho.
- Quem és tu... quem és tu... quem és tu... - respondeu o eco.
- Sejam meus amigos, eu estou só... - disse ele.
- Estou só... estou só... estou só... - respondeu o eco.
"Que planeta engraçado!", pensou então. "É completamente seco, pontudo e salgado. E os homens não têm imaginação. Repetem o que a gente diz... No meu planeta eu tinha uma flor; e era sempre ela que falava primeiro."
Mas aconteceu que o pequeno príncipe, tendo andado muito tempo pelas areias, pelas rochas e pela neve, descobriu, enfim, uma estrada. E as estradas vão todas em direção aos homens.
- Bom dia! - disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
- Bom dia! - disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
- Quem sois? - perguntou ele espantado.
- Somos as rosas - responderam elas.
- Ah! - exclamou o principezinho...
E ele se sentiu profundamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ele era a única de sua espécie em todo o Universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
"Ela teria se envergonhado", pensou ele, "se visse isto... Começaria a tossir, simularia morrer, para escapar ao ridículo. E eu seria obrigado a fingir que cuidava dela; porque senão, só para me humilhar, ela seria bem capaz de morrer de verdade..."Depois, refletiu ainda: "Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum. Uma rosa e três vulcões que não passam do meu joelho, estando um, talvez, extinto para sempre. Isso não faz de mim um príncipe muito poderoso..."
E, deitado na relva, ele chorou.
E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia - disse a raposa.
- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.
- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...
-Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa - disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...
- É possível - disse a raposa. - Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra - disse o principezinho.
- A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito - suspirou a raposa.

sábado, 26 de novembro de 2011

A LEVEZA DA POESIA

VALE A ....?




TENTANDO SEMPRE APRENDER A SER LEVE...

O Vôo
Menotti Del Pichia


Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.

Que sabes tu do fim?

Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.
conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto.

No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.

Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.

Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A CANÇÃO E A POESIA



MOTIVO
CECÍLIA MEIRELES


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A ROSA E A POESIA









TEOLOGAL
ADÉLIA PRADO

AGORA É DEFINITIVO:
UMA ROSA É MAIS QUE UMA ROSA.
NÃO HÁ COMO DESERDÁ-LA
DE SEU DESTINO ARQUETÍPICO.
POETAS QUE VÃO NASCER
PASSARÃO NOITES EM CLARO
RENDIDOS À FORMA PRIMA:
A ROSA É MÍSTICA.

PS:ROSAS DA POUSADA VAGALUME, TIRADENTES.
FOTOS DE ELIANA MIRANZI.

sábado, 19 de novembro de 2011

SONHOS E PÁSSAROS



Aurora
Roseana Murray


Dormem ainda os pensamentos
Quando a primeira luz invade
O quarto,
Flutuo como um centauro
Metade gente metade sonho.
O que trará a manhã deste dia?
Que milagre em minha porta?
Dentro de mim
Alguns pássaros esvoaçam.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

SINCRONICIDADE




VAMOS ESTUDAR?

SINCRONICIDADE E WITZ

Fernando Cavalheiro

Em 1950 Carl Gustav Jung publica um ensaio chamado Sincronicidade: Um Princípio de Conexões Acausais. Nesse ensaio Jung evoca dois filósofos, a saber, Schopenhauer e Leibniz. O primeiro vale-se do conceito de prima causa para explicar a relação de simultaneidade significativa, de cuja expressão Jung cunha o termo sincronicidade. De Leibniz é a idéia de harmonia preestabelecida, assim comentada por Jung:
"Para este último (Leibniz), Deus é o criador da ordem. Assim ele compara a alma e o corpo a dois relógios sincronizados e emprega esta mesma imagem para exprimir as relações das mônadas ou enteléquias entre si. Embora as mônadas não possam influir diretamente umas nas outras (abolição relativa da causalidade), porque não têm 'pequenas janelas', contudo são constituídas de tal maneira, que sempre estão de acordo, sem terem conhecimento umas das outras. Ele (Leibniz) concebe cada mônada como um 'pequeno mundo', como um "espelho indivisível ativo'. Não somente o homem, portanto, é um microcosmo que encerra a totalidade em si, como também - guardadas as devidas proporções - qualquer enteléquia ou mônada. Qualquer 'substância simples' tem conexões 'que expressam todas as outras'. 'Por isto, ela é um espelho vivo e eterno do universo'. Ele (Leibniz) chama as mônadas de 'almas de organismos vivos'. 'A alma obedece às suas próprias leis e o corpo também às suas; eles se ajustam entre si graças à harmonia preestabelecida entre todas as substâncias, porque todas elas são representações de um só e mesmo universo'".
Essas idéias coincidem com as dos primeiros românticos para os quais o mundo constituía-se num livro a ser lido, pleno de coincidências significativas, uma grande unidade. Para Goethe, citado por Jung, : "Todos nós temos certas forças elétricas e magnéticas dentro de nós e exercemos um poder de atração e repulsão, dependendo do contato que tivermos com algo afim ou dessemelhante". A ligação causal encontra-se no registro da consciência. Já a ligação acausal encontra-se no registro do inconsciente, sem tempo e espaço.
Ainda com relação ao termo sincronicidade Jung assim se refere: "Escolhi este termo, porque a aparição simultânea de dois acontecimentos, ligados pela significação, mas sem ligação causal, me pareceu um critério decisivo. Emprego, pois, aqui, o conceito geral de sincronicidade, no sentido especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com mesmo conteúdo significativo". Conteúdo significativo é a forma de expressar os eventos afins, que separados pela cronologia, só podem se encontrar na paralisação do tempo, na simultaneidade. "Em tais circunstâncias parece que o fator tempo foi eliminado por uma função psíquica, ou melhor, por uma disposição psíquica que é capaz de eliminar também o fator espaço". Essa função psíquica é o inconsciente. Nele o eu, o sujeito, está ausente. Mas nele encontra-se uma forma de inteligência, cujo conhecimento se postula, como diz Jung, como Precognição de alguma espécie. "Não é, certamente, um conhecimento que possa estar ligado ao eu, e, portanto, não é um conhecimento consciente como o conhecemos, mas um conhecimento inconsciente subsistente em si mesmo, e que eu preferiria chamar de conhecimento absoluto. Não é uma cognição do sentido próprio mas, como disse excelentemente Leibniz, uma percepção que consiste - ou, mais cautelosamente, parece consistir - em simulacra (imagens) desprovidas de sujeito".
Comentando a linguagem conceitual, Jung assinala a dificuldade que temos, por estarmos nela imersos, de encontrar uma linguagem que expresse e não comunique conteúdos. Quando não entendemos a linguagem do sonho, interpretamos seu significado. Só é possível falar em sincronicidade fora da linguagem conceitual, no medium acausal da linguagem do nome. Quanto a isso ele assim se refere: "É difícil despojar a linguagem conceitual de seu colorido causalista. Assim, a expressão 'estar na base de', apesar de suas conotações causalistas, não se refere a nada de causal, mas a uma qualidade existente que expressa simplesmente aquilo que ela é, e não outra coisa, ou seja, uma contingência irredutível em si mesma. A coincidência significativa ou equivalência de um estado psíquico que não tem nenhuma relação causal recíproca significa, em termos gerais, que é uma modalidade sem causa, uma organização acausal"(grifos do autor). Essa organização acausal é o que Benjamin chama de configuração, ou a "idéia como configuração": "As idéias são constelações intemporais, e na medida em que os elementos são apreendidos como pontos nessas constelações, os fenômenos são ao mesmo tempo divididos e salvos". E é nessa configuração dos fenômenos que se pode nomear a idéia. Essa nomeação caracteriza o fenômeno de origem, fundação. Referindo-se à obra de arte, Benjamin assim caracteriza esse momento: "Uma obra de arte significativa ou funda o gênero ou o transcende, e numa obra de arte perfeita as duas coisas se fundem numa só". A sincronicidade, configuracão simultânea e instantânea, significativa e acausal, é o fenômeno próprio da origem.
Na terminologia dos primeiros românticos alemães a conexão, fenômeno sincrônico, é chamada de Witz. Seligman-Silva assim define o Witz em uma nota de sua tradução do livro de Benjamin chamado O conceito de crítica de arte no Romantismo alemão: "Witz...indica não apenas espirituosidade, perspicácia (Scharfsinn em alemão), como também capacidade combinatória (L.N. 89 e 920, A 37, K.A. xVIII, p. 125: 'Witz, ars combinatória, crítica, arte de encontrar, tudo uma mesma coisa'), ou, como afirma Benjamin, síntese (química, no A 366, opondo-se à cadeia de analogias mecânicas do entendimento...)". Benjamin comentando o Witz refere-se a ele como "um contexto medial contínuo, de um medium-de-reflexão dos conceitos. No Witz este medium conceitual aparece, como termo místico, como um relâmpago".
Para Katia Muricy: "A tarefa da filosofia é a de constituir uma linguagem verdadeiramente filosófica, uma arte combinatória de palavras". Essa "arte combinatória" é o Witz. Ainda segundo ela, "o Witz põe em cena a afinidade secreta entre as palavras filosóficas". E cita Schelegel: "Freqüentemente as palavras se compreendem melhor a si mesmas do que aqueles que as usam". E complementa: "Muitos achados do Witz são como reencontros, depois de longa separação de dois pensamentos amigos". Esse "reencontro depois de longa separação", é a base do conceito de conexão, caro a Benjamin e a Jung, e que pressupõe fragmento, sincronicidade, afinidade e configuração. Essa configuração é o que Leibniz, citado por Jung, chamou de, acima citado: "simulacra (imagens) desprovidas de sujeito".

Do site: RUBEDO.

Contato com o autor:
cavalhei@marlin.com.br

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

POESIA E SIMPLICIDADE


NATUREZA MORTA COM LIMÕES- ZURBARÁN-ESPANHA -

REGALO
MARIA ESTHER MACIEL



Quando meu pai

voltava da roça

trazia, além da alegria

garrafas de leite cru.


Às vezes, cestas de ovos

mangas maduras

polvilho, açafrão em pó.


Trazia o cheiro das coisas

sem malícia. A memória

dos pastos.
O azul.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DESENHOS E POESIA


CÂNDIDO PORTINARI

Do livro Triz, 1998:
AUTORIA:MARIA ESTHER MACIEL
ESCRITORA MINEIRA CONTEMPORÂNEA


AULA DE DESENHO



Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
e constato: na arte ou na vida,
em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

*

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

VIOLÃO,SONHOS E POESIA.


PABLO PICASSO- VELHO VIOLONISTA-

MI GUITARRA
ESTE POEMA FOI GRAVADO POR MERCEDES SOSA, COM A MÚSICA:"SIEMBRA".
AUTORIAS:JOSÉ FOGAÇA, VICTOR RAMIL, -Vs. E. FONT

Mi guitarra, compañero habla el idioma de las águas, de las piedras,
de las cárceles del miedo, del fuego y de la sal.
Mi guitarra lleva el demonio de la ternura y de la tempestad
es como un caballo que rasga el vientre de la noche
besa el relámpago y desafia a los señores
de la vida y de la muerte.
Mi guitarra es mi tierra, compañero
es el arado que siembra la oscuridad.
Mi guitarra es mi pueblo compañero.

Meu violão, companheiro, fala o idioma das águas, das pedras,
Dos cárceres do medo do fogo e do sal.
Meu violão leva o demônio da ternura e da tempestade
É como um cavalo que rasga o ventre da noite
Beija o relâmpago e desafia os senhores
Da vida e da morte.
Meu violão é minha terra, companheiro,
É o arado que semeia a escuridão.
Meu violão é meu povo, companheiro.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MEMÓRIA, POESIA E SINOS



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PARA LEMBRAR
ROSEANA MURRAY


Quando eu morrer
me amarre em teu corpo
com as vigorosas cordas
da palavra,
quando eu for só palavra
me amarre em teus olhos
com as frágeis cordas
da memória,
quando eu for apenas
uma fragrância longínqua,
toque os sinos
da minha poesia
para lembrar.

in Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva