quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MULHERES SÁBIAS

Mulher Sábia
Eliana Miranzi

Há muita sabedoria na cabeça de uma mulher. Há muito afeto em seu coração.
Sabedoria mais afeto fazem boa soma. Não é difícil ser sábia, é questão de tempo e sutileza de observação. Ser sábia é conseqüência, não objetivo. A mulher sábia é silenciosa, atenta e discreta. Não é que ela adivinhe o que vai acontecer, mas pode prever, por ter visto tanto da vida, e já que esta se repete... Em sua memória juntam-se enormes conhecimentos, a ponto de, repentinamente, em um dia qualquer ela se dar conta de que realmente conhece o mundo e pode entendê-lo, da mesma forma que entende seu corpo, seus sentimentos. E aflora a intuição...
Sábia é a mulher que não se preocupa com a opinião alheia, pois a dela, por si só, é bastante. Que consegue voltar-se para dentro de si mesma com alegria, pois este é o melhor lugar para se estar. Não sente necessidade de expor sua opinião a toda hora, pois está segura de seu pensamento. Não é preciso expressá-lo.
Sabe ficar só e se deleita com isso, não pela solidão em si, mas pela oportunidade de, no silencio, poder ouvir a voz de sua alma. É lá que reside a escritura da vida, a semente do conhecimento, a terra fértil da criação, a música sagrada.
A mulher sábia é amiga intima de seu eu mais profundo, fala com ele e o ouve, bem mais do que às vozes do mundo. Assim como também é intima da natureza, das plantas e bichos e conhece as trilhas dos insetos, tão bem como os seus próprios caminhos. Da mãe natura ela extrai remédio e veneno; consolo e vida; sinais e avisos. Desta mãe primeira ela conhece cada som, cada cheiro, cada sutil mudança e desenho. Sabe como falar com ela e o que ela está a dizer, o que quer, o que pode dar e do que necessita.
Esta divina criatura, mestra-mulher, se retrai e se expande, se multiplica e se divide, é presente ou invisível, de acordo com as situações. À espreita, acolhe ou ataca, protege ou acusa, ensina e aprende, conforme a necessidade de suas crias. Ela produz, inventa, faz surgir do nada tudo aquilo de que os seus carecem. E se ela é capaz de criar filhos, é capaz também de criar qualquer outra coisa. Tira leite de pedra, faz aparecer arco-íris, provoca chuva ou sol, basta querer. E se mantém no silêncio...
Ela reconhece mistérios, nomeia suas bênçãos, enumera as graças. Dobra as esquinas segura do que faz, como os grandes mestres. Torna-se parceira dos deuses.
Bruxa ou fada, santa ou perigosa, combatente e combativa, misteriosa ou estranha, assim foi e sempre será chamada por todos os tempos. Vive porque em si mora a vida. E luta, e segue em frente, cabeça erguida, olhos atentos.
E, após o término da labuta, lambe as crias, acaricia suas cicatrizes, agradece o universo, deita-se, vira-se de lado espreguiçando longa e vagarosamente e dorme o sono dos justos, dos inocentes e vencedores. Ave Mulher...
Março/2009.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Estar juntos
Adriana Ferreira

Preciosos participantes de nosso treino em SONHOS E CORPO - ANATOMIA EMOCIONAL-
Enorme e valiosa complementariedade a contribuição de nossa querida Dra.Marlene, apresentando a VISÃO de FATO das camadas do corpo.Agora, depois de VER como a natureza trabalha na formação de cada corpo em PARTICULAR, acredito que cada um possa estabelecer uma conexão de fato confiante com seu corpo NA ORIGEM.
A terminologia da metodologia SOMÁTICA FORMATIVA ,é FIEL AO PROJETO DA NATUREZA E DO DESTINO DE CADA UM.Aliar-se,como participante desta verdade, só pode restituir ao indivíduo uma re-ligaçao(religare, unir-se outra vez) com sua essência e uma curiosidade respeitosa em relação a sua própria CRIAÇÃO. A criação deste seu corpo instrumento, tal como FOI FEITO PARA SER, e ter no mínimo , além de reverência e respeito, a CURIOSIDADE de conhecer sua propria FORMA,ESTRUTURA, MODO DE ESTAR CONSTITUIDO, e a partir disto, USAR-SE de fato no melhor dos sentidos.Isto é, apropriar-se de si mesmo, de seu talento, de sua particularidade, de sua índole, verve e poder de ser o INDIVÍDUO QUE É.Isto,acrescido do fato de que SÓ COM AMOR E CONSCIÊNCIA, podemos desdobrar tanto mistério, encaminhando este poder a um MODO DE AGIR no mundo.Modo este, ESTILO pessoal, intransferível, capaz de traduzir nossa temporária passagem e permanência nesta dimensão da vida, aparentemente estável, mas... que sabemos,nao passa de ser a re-edição de uma realidade maior.
Exercer sua forma, sua presença no mundo, é pois, não apenas um acaso,mas uma oportunidade, chance e tarefas capazes de dar significado aos menores e maiores gestos que um corpo-alma é capaz e deseja tornar VISÍVEL.
Hold on -persistam na contemplaçao desta GRANDE ,MILAGROSA E VITORIOSA OBRA DA NATUREZA DIVINA: seu corpo, sua vida e a entidade que a isto move, anima, e presenteia o universo.
OBRIGADA ,dra.Marlene,e por favor continue a colaborar conosco nesta prazeirosa possibilidade de VER O CORPO POR DENTRO,VER SUA magnífica arquitetura e projeto.Emoção e muito encanto por esta experiencia.
Feliz coragem e ousadia de nossas recém chegadas, Luciana e Leticia!Expondo e compartilhando temores ora tão bem encapsulados e ora tão a flor da pele.Coragem para olhar a vida em sua extensão e também em sua particularidade.AQUI - AGORA é nossa de fato REAL OPORTUNIDADE , para abraçar o mistério de nossa própria existência,suas demandas formativas, suas revelações aparentemente silenciosas(como no sonho de Luciana)mas de fato gritantes.VOILÁ! O momento é este! Belo, o vôo de Cristiana, soltando asas num suspiro poético, vigoroso e em pleno treino para AGIR ....como disse Eliana Miranzi: mais, mais Cristiana, mais destes suspiros libertadores...e vamos indo. Sempre com esta sensação deliciosa de que não há nada tão precioso como CULTIVAR E ALIMENTAR VIDA, impulsos, surtos criativos,sonhos verdadeiros.Nisto, EU ESTOU JUNTO , muito junto de todos vocês. E vamos nutrir o blog, nutrindo assim nosso trabalho, nosso desejo de estar junto em nome deste prazer enorme que é HONRAR A VIDA QUE PULSA EM NÓS.ALIÁS,este texto é para A REDENÇAO DA ALMA.Leva pra lá, Eliana....abraço quente, neste trajeto com deliciosa chuva... fecundando primaveras dentro de nós.Adriana Ferreira

alvará de demolição


O que precisa nascer
tem sua raiz em chão de casa velha.
À sua necessidade o piso cede,
estalam rachaduras nas paredes,
os caixões de janela se desprendem.
O que precisa nascer
aparece no sonho buscando frinchas no teto,
réstias de luz e ar.
Sei mui bem o que este sonho fala
e a quem pode me dar
peço coragem
Adélia Prado

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

texto de cristiana musa

Independência ou morte!
O que eu faria se fosse livre?Viajaria pra Tiradentes, cantaria numa banda da cidade,
Dançaria tango, não arrumaria a cama no domingo?
E porque não posso fazer tudo isso agora?Estou esperando a autorização de quem?
Os sonhos desses find me confirmaram isso: Eu quero, eu posso , eu cuido!
Agora eu vi! Sempre esteve lá, como a escada.
Minha liberdade sempre esteve aqui comigo.Sempre pude senti-la mas não praticá-la.
Na vida as vezes praticamos , mas não sentimos, estamos no piloto automático.
Ou sentimos, mas não praticamos, estamos presos.
Acredito que liberdade seja quando o sentir e o agir estão conectados.
Não quero mais perder essa conexão!
Aquilo que a Maria Betânia disse: Não tenho mais aquele corpo, aquele viço, mas
Tenho paz.
Desviei o assunto pra citar alguém livre.Os artistas são livres.
Esse sentimento a que ela se refere, é o estar em paz com as nossas vontades.
Os nossos mais íntimos desejos podem ser realizados. Nao tem medo, não tem angústia, nem conflitos, nem certezas. Isso é muito importante saber.Um artista não tem certeza de nada.
Se o cd vai vender, se vão gostar da sua música, da sua obra?Muitas vezes levam-se muitas vidas pra entender e apreciar uma obra .Muitas vezes o artista até já até se foi.
Eles não necessitam da aprovação de ninguém. E aí eu estou falando de verdadeiros artistas.
Esses sim não se ocupam em pensar no que os outros acham.A opinião alheia pra eles, não é
parâmetro para direcionarem a sua arte, nem o seu ofício.Que quando se trata de verdadeiros
artistas é a mesma coisa.
Eles se libertaram da sua psique infantil, como aprendemos na sexta com a nossa mestra.
Jung diz que esse é um momento extremamente importante nas nossas vidas.
Entao o que é ser livre?
Estou quase assim como os artistas, não tenho certeza de nada, estou apenas construindo a minha obra, me deixem em paz!
TEXTO DE CRISTIANA MUSA-UBERABA/SET/2010
MEUS CAROS COLEGAS
BOM DIA!
ESTOU “REPLETA” DO FIM DE SEMANA E TODOS OS APRENDIZADOS QUE TIVE.
CANSAÇO, MAS DAQUELE BOM...
COMECEI COM JUNG NA SEXTA, ENTENDENDO A DIFERENÇA DE PENSAMENTO DELE EM RELAÇÃO AOS DEMAIS FILÓSOFOS, PSICÓLOGOS, ETC, POIS VISITEI MINHA ALMA NAQUELA EXPLANAÇÃO DA ADRIANA.
E AGORA QUE ELA TEM “O LIVRO VERMELHO”, PROVAVELMENTE MAIS RICAS AINDA SERÃO NOSSAS VIAGENS INTERNAS. MARCELO PÕE NOSSA MESTRA A ESTUDAR MAIS AINDA DO QUE JÁ FAZ...
NO SÁBADO, A PRÁTICA CORPORAL LEVOU-ME A OUTRAS PARAGENS...MEU CORPO TODO EXPERIMENTOU O FLUXO DE VIDA DO MOMENTO, E VISITEI LUGARES INTERIORES QUE ME REMETEM A CAMÕES COM SEU:”MARES NUNCA ANTES NAVEGADOS!”.
SONHAMOS JUNTOS, VIMOS CORPOS SONHAREM, MERGULHAMOS NO MUNDO DOS AVISOS DO INCONSCIENTE, EXPERIMENTAMOS A FORÇA DO CASAMENTO “CORPO/INCONSCIENTE”. DEMOS “CONSCIÊNCIA” AO QUE ISSO PEDIA, INTENSAMENTE ENVOLVIDOS, TODOS NÓS NESSE INITERRUPTO PROCESSO DE SER “GENTE”, HUMANO. MINHA HUMANIDADE VEIO AINDA MAIS À TONA NO DOMINGO, RELEMBRANDO-ME DE MEUS LIMITES, MINHAS FRAQUEZAS, MINHA CONDIÇÃO DE VIVENTE DESTA TERRA. AO ASSISTIR A EXPLANAÇÃO DE MARLENE FUI AO “ANTES”, E AO COMEÇO DESTA VIDA GRANDIOSA QUE RECEBEMOS, UM PRESENTE INEXPLICÁVEL.
MILAGRE COTIDIANO, TÃO GENEROSO, TÃO AMPLO E PERFEITO QUE NOS GERA E NOS FAZ CAPAZ DE GERAR. ENGENHARIA DO SAGRADO PROJETO, DO DIVINO PARA O HUMANO, SUA CRIAÇÃO. PRIVILÉGIO SER PARTE DESSE GRUPO, E SÓ DEUS SABE O PORQUÊ DE TANTAS FORÇAS PSÍQUICAS EXEPCIONAIS ESTAREM JUNTAS NESTE GRUPO. GRATIDÃO É O SENTIMENTO E A PALAVRA. TENHAM UMA LINDÍSSIMA SEMANA, E QUE AQUILO QUE INUNDA O MEU SER TAMBÉM ESTEJA PASSEANDO EM VOCÊS.
ELIANA R.C.MIRANZI
UBERABA/SET/2010.

sábado, 25 de setembro de 2010

Brownies


BROWNIES
200 GRS MANTEIGA
1 XÍCARA CHÁ DE CHOCOLATA EM PÓ
1 XÍCARA E MEIA DE AÇUCAR
4 OVOS
1 XÍCARA E MEIA DE CHÁ DE FARINHA DE TRIGO
1 XÍCARA DE CHÁ DE NOZES PICADAS
MANTEIGA PARA UNTAR
FARINHA DE TRIGO PARA POLVILHAR
DERRETA METADE DA MANTEIGA NUMA PANELA E DISSOLVA AÍ O CHOCOLATE. RESERVE. BATA O RESTANTE DA MANTEIGA COM O AÇUCAR, ATÉ ESBRANQUIÇAR. ADICIONE ENTÃO OS OVOS 1 A 1 BATENDO BEM. ACRESCENTE A FARINHA E AS NOZES. MISTURE BEM E ASSE EM ASSADEIRA DE 24 CM X 35 CM., UNTADA E POLVILHADA. LEVE AO FORNO MÉDIO DE MAIS OU MENOS 180 GRAUS, PRÉ-AQUECIDO, POR APROXIMADAMENTE 25 MINUTOS. DEIXE ESFRIAR E CORTE EM QUADRADINHOS.
BOM APETITE.

BOLO DE MEL
3 XÍCARAS DE FARINHA DE TRIGO
1 XÍCARA DE AÇUCAR
1 XÍCARA DE MEL
1COPO DE LEITE
1 COLHER DE MANTEIGA
1 COLHER DE SOBREMESA DE CANELA EM PÓ
1 COLHER DE CHÁ DE BICARBONATO
6 A 8 CRAVOS TORRADOS E AMASSADOS
1 COLHER DE SOBREMESA DE CALDO DE LIMÃO
1 PUNHADINHO DE ERVA DOCE
MISTURAR TUDO MUITO BEM
GLACÊ
1 XÍCARA DE AÇUCAR
2 COLHERES DE LEITE
1 COLHER DE MANTEIGA
1 PITADA DE BAUNILHA
IR DIRETO PARA O FOGO. DERRETENDO-SE, JOGAR POR CIMA DO BOLO. OU COLOCAR CALDA DE CHOCOLATE. BOM APETITE.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

OS ESPELHOS NA PINTURA
Eliana R. da Cunha Miranzi
(Obs: esse trabalho não tem pretensões acadêmicas nem didáticas; são observações pessoais, que entendi poderiam ser compartilhas com pessoas interessadas no estudo das artes.)


É curioso notar como, por tantas vezes, artistas usaram espelhos em seus quadros. A bem da verdade, não só na pintura, mas também na literatura, escritores usam e usaram inúmeras vezes a figura do espelho. (Ex: “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, o poema de Cecília Meireles, “Retrato”, etc.).
Desde sempre o espelho exerceu um grande fascínio sobre o ser humano. Há mitos, lendas, superstições e várias histórias que envolvem espelhos. Vejamos, portanto, em primeiro lugar, o conceito do que é um espelho. Do dicionário, temos que é feito em geral de vidro, com uma superfície refletora constituída por uma película metálica; objeto que serve para refletir imagens; é reflexo, representação. As palavras “refletir” e “representar” já nos dão uma idéia de que além do objeto em si, há bem mais por traz de um espelho. Nossos pensamentos são espelho e reflexo de nossa inteligência, memória, vivencias, nosso consciente e subconsciente. É por isso que há estudos na Filosofia e na Psicanálise sobre esse assunto. Por ex., trabalhos de Michel Foucault, Jacques Lacan,etc. Cada um traz uma teoria diferente sobre o espelho,seu significado e importância, teorias estas sempre enriquecedoras e esclarecedoras.
A palavra espelho vem do Latim “speculum”, que nos remete a “especular”, inquirir, questionar. No Inglês, a palavra é “mirror”, e no Francês, “miroir”, ambas também vindas do Latim, significando “mirar”, olhar, admirar-se, questionar. Portanto, é objeto que auxilia no auto-questionamento, no auto-conhecimento, tendo uma abrangente simbologia e representação. O espelho simboliza identificação, contemplação, iluminação, verdade, conhecimento; o inconsciente e a alma. Ao mesmo tempo, podemos nos lembrar também o fato de que nossos olhos são como espelhos. Refletem as imagens que estão diante de nós. Portanto, temos em nós próprios, nossos “olhos-espelhos” da realidade, se bem que sempre invertida. (Invertida também é a atitude da tentativa do auto-conhecimento, olhos voltados para dentro). Há quem diga que os olhos são “espelhos da alma”, ou “janelas da alma”...
O espelho torna o que é estranho, familiar. E ao mesmo tempo, passamos a estranhar o que ele retrata, olhamos com espanto aquilo que ali se apresenta, pois nunca nos vemos como realmente somos. Nossa imagem é percebida como se fosse um “outro” que nos observa.
Há o antigo mito que se refere a uma imagem refletida na água, tal qual num espelho: o mito grego de Narciso, belíssimo jovem, incapaz de amar, que ao ver-se refletido na água (espelho), encanta-se com sua própria beleza, apaixona-se por si próprio. Tenta capturar a imagem que vê, deixando-se afogar e morrer, na tentativa de apoderar-se dela.
Nos contos de fadas há espelhos reveladores, fiéis à verdade. Nas lendas é usado como símbolo de passagem para lugares imaginários, improváveis, impossíveis. Um espelho partido pode trazer desgraças, segundo os supersticiosos. Os judeus cobrem os espelhos da casa com panos, quando alguém da família morre. Há lendas que dizem que alguns povos temiam os espelhos, pois entendiam que eles roubavam a alma das pessoas que os usassem.
Portanto, não é por acaso que o espelho esteja sempre tão ligado à arte, pois esta, como já vimos inúmeras vezes, é reflexo de seu criador, expressão de sentimentos, busca da perfeição e do Belo, assim como retratação de imagens da realidade e do subconsciente. A obra de arte serve como fonte de conhecimento do psiquismo humano.
Somos, como espectadores da estética artística, “Narcisos” buscando-se a si mesmos nos “espelhos da arte”. Ao contemplar o que um artista retrata “co-agimos” com ele, “entramos” em sua obra, que como o espelho, nos serve de passagem para outros mundos.
Deve também ser salientado o fato de que pintores da Renascença e mesmo de outros períodos usaram o espelho como objeto funcional na execução de seus desenhos, através de artifícios tais como a câmera escura ou “obscura” a fim de melhor desenhar. Com o reflexo do objeto de seu desenho projetado por essa câmera, ficava-lhes mais fácil serem fieis à realidade do que viam e iriam pintar.
Podemos, além disso, nos lembrar de que ao colocar-se dois ou três espelhos ao lado ou de frente um para o outro, temos o efeito da repetição da imagem incontáveis vezes. Até o infinito. É um estranho mistério aos nossos olhos, mas facilmente explicável pela Física. Outro efeito é semelhante a um labirinto, sem saída visível. Há ainda a distorção de imagens de espelhos côncavos ou convexos... Outro mistério que atiça nossa curiosidade.

Quadros com espelhos:
(OBS. Coloquei aqui quadros com espelhos, não necessariamente retratando pessoas, e nem sempre com reflexos. A escolha foi mais ou menos aleatória, não tendo obrigatoriamente seguido um critério específico.).

Salvador Dali – “A Metamorfose de Narciso”. (ilustração: Enciclopédia Larousse, vol.7, pág.791).
Nessa obra surrealista vemos a representação onírica de um Narciso metamorfoseado em dedos que seguram um ovo (vida), de onde brota uma flor, reflexo de um Narciso com a cabeça nos joelhos, mais à esquerda. Ao fundo outras imagens de sonhos ou, de qualquer maneira, de um subconsciente atormentado e de difícil compreensão para nós, por tratar-se da representação de um “sonho-paranóide”.
Dizem que Dali era um ególatra e possuía uma auto-estima que ia muito além dos padrões considerados normais. Vaidoso, ambicioso, megalomaníaco. Ouviu uma história certa vez contada por dois pescadores da região da Catalunha, que falavam de um homem que passava horas mirando-se no espelho. E diziam que o homem tinha “bulbos na cabeça”, expressão catalã que se refere a pessoas mentalmente doentes. Seu Narciso pode ter nascido daí.
No quadro há pessoas dançando, Narciso ajoelhado com a cabeça no joelho (a água é muito escura e não o reflete). Não podemos ver sua face. À direita uma mão segurando um ovo, com uma flor, imagem com a mesma forma e postura do corpo de Narciso. A rachadura no ovo é reflexo do cabelo de Narciso. Há quem diga que esse quadro é um auto-retrato. A unha, o polegar, representam a autoconfiança, que, no caso, aparece rachada. Ele mesmo se definia como metade um homem comum, metade gênio. O ovo é a representação do poder criador da luz, da vida. Representa morte seguida de vida. Sendo representação de sua cabeça, mostra sua vaidade e presunção. (auto – avaliação). O nome da flor, narciso, vem de narke em grego, que significa narcótico, sono, morte. A mão fora d’água (associada à vida) representa uma inversão de papéis ( o que simboliza a vida e o que simboliza a morte = terra árida onde se encontra a mão). Gelo derretendo na montanha = morte. No piso xadrez, um rapaz admira seu próprio corpo, num pedestal. Peça do jogo e jogador solitário. O xadrez mostra luz e sombra, preto e branco, claro e escuro. (vida e morte). O cão à direita rasga um pedaço de carne, carcaça. (morte do que já foi vida). Formigas escalando representam deterioração, decomposição. Nuvens pesadas – novamente a idéia de tragédia, morte. Há divergências de opinião sobre o que se metamorfoseia, se Narciso ou se a mão. Dalí disse que se tratava da morte e petrificação de Narciso. Morte da vaidade, porém com um sentido positivo final, o da vida brotando do ovo.
Obs: Caravaggio, que viveu de 1492 a 1543, fez um “Mito de Narciso” muito apreciado e elogiado por historiadores e admiradores de arte.
Outras obras com espelho:

Rubens – “Toalete de Vênus” (ilustração: enciclopédia Larousse, vol.20, pág.2304).
Pintor flamengo do período barroco (foi um dos primeiros), nascido na Vestfália, hoje parte da Alemanha. Trabalhou para as casas imperiais, para os nobres e era apreciado pela Contra-Reforma. Tinha uma expressividade arrebatada, principalmente nas cenas religiosas. Não eram comuns quadros com nus à sua época e no seu ambiente, pois desagradavam a Igreja. Pintou muitas cenas religiosas e mitológicas. Rubens estudou em Veneza e Roma. Há um sentido decorativo em sua obra. Usava sua segunda esposa, Helene Fourment como modelo. Na “Toalete de Vênus” (a deusa do amor), vemos a mesma após o banho, de costas, nua, a mirar-se ao espelho que lhe é oferecido por um anjo, e à direita uma mulher negra, provavelmente representando a subserviência dos menos favorecidos, paralelamente ao anjo, representação de algo mais sublime. O rosto no espelho não é muito fiel à posição em que se encontra Vênus, pois esta se nos aparece de perfil. Há muita luz na figura da deusa, ao passo que o fundo é muito escuro. Nossos olhos são, no entanto, atraídos para a figura do espelho. O olhar da deusa no espelho não parece dirigido a si própria, mas ao observador do quadro.


Ingres – “Madame de Senonnes” (ilustração: site: www.abcgallery.com/I/ingres.25.html e “Madame de Hausonville”-
( ilustração: Gênios da Pintura, vol. IV)
Jean Dominique Ingres, pintor francês, expoente da tradição clássica, foi aluno de Jacques Louis David, e do Barão de Gros. Excelente retratista, fez essas duas mulheres de costas para o espelho. As mulheres apresentam beleza e perfeição de detalhes. Os ambientes são ricos, há luz, cor e volume em seus retratos. Trazem um olhar enigmático, que remete a romance, sonho ou segredos. O reflexo de suas cabeças no espelho é perfeito. Porém, subjetivamente, podemos observar que, estando de costas para o espelho, não se buscam, não há aqui a tentativa do auto-conhecimento. Elas encaram o espectador, e não a si próprias. Apesar disso, seus olhares nos passam profundidade psicológica e quase que dialogam conosco. Ingres pode ser considerado um repórter da moda de seu tempo, tal a riqueza de detalhes por ele mostradas nas vestimentas de suas retratadas. Percebem-se com clareza os tecidos, suas estampas, e os adornos usados pelas mulheres.
Velásques –“As Meninas” (ilustração: Gênios da Pintura, vol.IV) “Vênus ao Espelho” (Gênios da Pintura, vol.IV) “Cristo em casa de Marta e Maria” (Galeria Delta da Pintura Universal, vol.1).

“As Meninas” - No quadro, vemos Velásquez pintando, espiando de trás de uma tela. O que ele realmente teria que pintar, não fica claro, depende do ponto de vista do observador. Em primeiro plano, vemos a “infanta”, cercada por serviçais. Estas seriam “as meninas”. Mas ele se encontra atrás delas, olhando por cima de suas cabeças, na nossa direção. Ao fundo, num espelho, aparece um casal, que poderia ser o casal real. Estão de frente para a cena. É como se no momento da retratação eles se encontrassem na posição que nós tomamos, como observadores do quadro. Não se tem notícias de que tenha sido feito um quadro desse casal real, assim como aparecem aqui. Portanto, descartamos a possibilidade de que, o que vemos na parede do fundo, ser uma pintura, e não um espelho. No cantinho à direita, vemos um menino e um cachorro, o menino a pisar no cão. Ao fundo, à porta, surge um homem, que os historiadores dizem ter sido o responsável pelas finanças da rainha. É como se ele viesse ver como está o trabalho do artista, e o andamento da encomenda. Da maneira como vemos, podemos pensar que Velásquez quis mostrar mais do que a família real espanhola; mostra também sua posição na corte, a relação entre soberanos e artista contratado. Na verdade, Velásquez toma um lugar mais importante do que o do rei e rainha, aqui. É ele quem tem o destaque. Outro ponto a se observar, é que ele não disfarça a realidade da aparência das personagens, não as faz mais belas do que realmente são. Pinta o que vê refletido no espelho à sua frente. E nós nos colocamos no lugar desse espelho, ao olharmos o quadro. Há focos de luz na porta ao fundo, e nas roupas das meninas. Há referencia à religiosidade na freira por trás das meninas. E, talvez, uma mensagem: a arte se sobrepõe ao poder.

“Vênus ao Espelho” – Velásquez retoma o tema de Rubens e retrata a sua Vênus. Dessa forma, é predecessor de Goya, na “Maja Desnuda”, e de Manet, com sua Olímpia. Seu olhar não é o mesmo que o de Rubens. Também aqui um anjo segura o espelho. As formas físicas são menos exageradas. Vênus se admira, reclinada em um divã. Sua pele é suave, mais ainda se comparada com os tecidos grosseiros. Parece ser noite, pelo que vemos ao fundo. O tom vermelho da cortina trás um toque dramático à cena. A deusa parece feliz com o que vê. Está relaxada e faz uma introspecção tranqüila. Está satisfeita consigo mesma. Seu reflexo ao espelho nos diz isso. É uma obra que sugere tranqüilidade, repouso. Auto-admiração, vaidade, sendo, pois, mais humana, menos deusa. Há pontos de luz nas asas do anjo, fitas, lençóis, mas principalmente, nas costas de Vênus. Não há erotismo ou apelo carnal. Mas poderíamos dizer que há sentimento.

“Cristo em Casa de Marta e Maria” – Aqui a ênfase é em Marta, trabalhando em primeiro plano, quando Maria e Cristo conversam ao fundo. O destaque é para Marta, e não para o filho de Deus. Nós os vemos ao fundo (Maria e Cristo) à direita, refletidos no espelho, como que para dar importância à citação bíblica: “Marta, Marta, Maria ficou com a melhor parte.” E Marta nos olha, como que se dando conta daquilo que Cristo havia lhe dito. A importância de Cristo pode ser considerada no fato de que Ele se encontra duplicado pelo espelho. Apesar de ser uma cena religiosa, há um aconchego doméstico aqui. Velásquez humaniza o fato. Há muita luz nos peixes, (símbolo de Cristo) e no alho. Marta parece contrafeita, enquanto Maria está atenta ao que diz o Cristo. Nada indica um ser divino. Não há auréolas, nada. Há luz entrando à esquerda no alto, através do pano que cobre a cabeça de Marta. Verticalmente, chega-se à luz maior, os peixes, o que faz com que conduzamos nosso olhar ao espelho acima. Ou seja, acima dos símbolos, o próprio Cristo em pessoa. Marta parece observar, não participando da conversa. Há em seu olhar um sentimento de “não pertencimento”.

Suzanne Valadon (impressionista) – “A Boneca Abandonada” (ilustração: www.sindromedeestocolmo.com/fotos/museumulher5.jpg)
Esta pintora posou como modelo para outros impressionistas de seu tempo. (nasc. 1865) Era amiga de Renoir e Degas. Foi amante de Satie, grande compositor da França. O também pintor Maurice Utrillo era filho de Suzanne. Esta sua obra mostra as fases da vida de uma mulher. A menina, com seu laço e a boneca, mostram a infância. Porém, a boneca está abandonada, indicando o fim da infância, a passagem para a vida adulta. Seu corpo já mostra os sinais do amadurecimento. Mas sua nudez é de adolescente, sem erotismo ou malícia. Ela se olha no espelho e fica fascinada com as transformações. Tenta “conhecer-se e reconhecer-se” naquela imagem. O ambiente é familiar, íntimo, caseiro, suave. Sem dúvida uma fase de enormes transformações para a mulher. Entrada no desconhecido, até mesmo seu corpo lhe é ainda desconhecido, por causa das transformações. A boneca renegada trás uma idéia de desencanto, incompreensão. A figura da mãe sugere a maturidade, o olhar atento de mãe, o cuidado e o zelo, tão femininos. O fato de que a menina está de costas para a mãe pode sugerir que se coloca de costas para a passagem do tempo, ainda não aceitando bem esse fato. Nós não vemos o que o espelho diz a ela. Sinal de que ela ainda está se buscando, ainda não se deu o auto-conhecimento. É preciso mais introspecção para que isso aconteça.

Picasso – “Mulher no Espelho” (e mais de 40 variações de “As Meninas”) (ilustração: Gênios da Pintura, vol. VII).
A preocupação do artista, nos últimos anos da década de 20 e nos primeiros anos da de 30, é buscar a unidade entre a aparência e a estrutura (ou essência). Ele dizia que a arte é reveladora. Tudo é uno e múltiplo, visível e invisível, existente e abstrato. E ele consegue juntar numa só tela todo esse conceito. A obra mostra uma mulher se olhando no espelho, com várias formas geométricas a representar seu corpo e o espaço circundante, enquanto vemos sua imagem refletida de maneira distorcida, respondendo bem claramente ao conceito do artista. Ela se busca no espelho, e se observa. Há mais em uma cena do que aparentemente vemos. Picasso fez mais de 40 reinterpretações de “As Meninas” de Velásquez, dando uma forma cubista ao tema. O espelho o perturbava, o inquietava. Há traços da obra anterior, mas tudo é “modernizado”. Assim Picasso via o espelho e seus reflexos. A arte não está presa à cronologia da vida, ela se transforma. A mulher de frente/perfil olha em frente e para o observador, ao mesmo tempo, e o olho refletido não acompanha o olhar “real”. Afinal, ele se questionava sobre o que é na verdade “real”. O que se vê no espelho não corresponde à imagem real. Picasso tinha uma grande ligação com os que o antecederam e era obsessivo quanto à repetição.

Paul Delvaux – “Mulher ao Espelho” ( ilustração: enciclopédia Larousse, vol. 7, pág. 814)
Numa gruta, ao fundo a claridade de sua entrada, cenário externo de terra infértil, deserto, pedras. Há suaves curvas que formam o interior da caverna. À direita, uma jovem nua. À esquerda, um espelho onde ela se vê. Da moldura desse caem duas faixas douradas, rendilhadas, que fluem até o chão. Faixas, fitas, tiras servem para amarrar, atar. Sentir-se-ia essa jovem presa, atada a si própria, ou ao que parece ser seu reflexo? Estaria ela presa a costumes, hábitos, a uma sociedade que ainda coloca a mulher na idade das cavernas? Estará sua alma, de alguma maneira presa? Seu interior a prende? São questões que o quadro nos faz querer responder. Paul Delvaux era belga, cineasta e pintor surrealista onírico como Dali, porém mais suave em seu trabalho. De onde vem a luz que clareia a personagem, se a entrada da caverna está do outro lado? Será do olhar do próprio espectador, que também assim se vê? Não há alegria aí, os sentimentos são de interiorização, de busca.

Vermeer – “A Lição de Música” (ilustração: Livro: “Universos da Arte” de Fayga Ostrower, pg. 200).
Vermeer, pintor holandês de sensibilidade ímpar. Pintava cenas do cotidiano. Aqui vemos uma moça tendo aula de piano, de costas para nós, com o mestre ao lado direito. Logo abaixo uma mesa coberta por uma tapeçaria, um violoncelo ao chão, do lado de uma cadeira. A luz vem das janelas e inunda o quarto, realçando a geometria do piso. Além, na parede vemos o espelho, com a moça nele refletida. O que é estranho, porem, é que a posição de sua cabeça de fora do espelho não corresponde à posição de seu rosto no espelho, onde esse está bastante voltado para o professor. Por trás, não temos essa impressão. Ela “se assiste” enquanto tem a aula. Vermeer usava montar as cenas que reproduziria, com cuidado em relação às cores e a luz. O ponto de luz pode ser a jarra na mesa, os brancos e os amarelos. A mesa fica em primeiro plano à direita, porém a luz da janela à esquerda conduz nosso olhar à cena da aula/piano/moça/professor. Há cheios e vazios, volume e alinhamento em diagonal. Nosso olhar passeia em busca de detalhes. Apesar de ser uma aula de música, há silêncio na cena, e uma impressão de permanência do tempo, da situação.

Van Gogh – “Quarto do Artista em Arles” (ilustração: Gênios da Pintura, vol. VI).
Impossível não colocar esse gênio atormentado aqui. Ele nos busca, quando falamos em arte. O quadro de seu quarto tem um pequeno espelho na parede, que nada reflete. Mas se existia, é porque o artista se dava ao trabalho de olhar-se, de vez em quando. Espelhos vazios possuem mais significado do que se pensa. E no caso de Van Gogh, conhecendo sua história de vida, sua doença, sua incessante busca de luz e cor perfeitas, vemos que o espelho devia muito representar para ele. E se nada reflete, talvez seja pelo fato de que ele não se via, não conseguia se conhecer interiormente, devido aos seus distúrbios mentais. Há vários “duplos”, na cena: 2 cadeiras, duas vasilhas de água, 2 conjuntos de quadros na parede, 2 garrafas, 2 travesseiros, 2 portas. Podemos entender esses duplos como seu anseio por companhia, pois sabemos que o artista era muito solitário. Ansiava pela vinda de seu amigo, Gauguin, que com ele morou por uns tempos. Também poderia retratar a duplicidade de personalidade do autor. Os amarelos fortes simbolizam a luz solar, fixação de Van Gogh. Há 3 pinturas deste quarto. E ele dizia que de suas obras, o quarto era sua preferida. Há uma estranha assimetria na composição. Descobriu-se há alguns anos que o terreno onde ficava a casa, em Arles, era assimétrico.
Manet – “Nana” / “Um Bar no Follies Bergère”

Nana – (ilustração: www.mtholyke.edu/courses/rschwart/hist225....)
Nana está de pé em frente ao espelho, colocando maquiagem. Seu visitante aparece apenas na beirada direita da pintura, mostrando que ele não é a figura mais importante da obra. Ela era uma cortesã, e não se usava pintar cortesãs tendo mais destaque do que cavalheiros. O sofá parece enquadrar o corpo de Nana e leva-nos ao cavalheiro. A luz nos leva a ela, á sua figura. Ela tem um sorriso leve, e está consciente da presença de seu visitante. Seu olhar encontra o nosso. Isso era considerado escandaloso, pela sua posição social. Uma cortesã não deveria olhar as pessoas nos olhos. A bengala do homem sugere um símbolo fálico na pintura. Dar destaque em um quadro especialmente para tal mulher não era coisa que se fizesse, e Manet “quebra as regras”. Manet foi um grande quebrador de regras. Todos sabem que prostituição existe, mas ninguém gosta de ser lembrado do fato. Essa pintura eleva o status da cortesã e reduz o do cavalheiro. O espelho só poderia responder com a verdade. Porém, não nos é permitido vê-la. Talvez ainda falte à moça se conhecer, ou a nós conhecer a alma das pessoas pouco convencionais. Manet, impressionista, pintava pessoas, movimento, o tempo, a vida humana. Usava cores e luz com gosto, chega a vir ao Brasil em 1849, e aqui fica por um tempinho. Chama a natureza brasileira de “a mais bela possível”. Ao vir para o Brasil, no navio, pintou as despensas deste, a mando do comandante, pois era ajudante de camareiro. Dizia que tinha sido sua primeira experiência com tintas. Tinha então 17 anos. Tem um pouco de Brasil em Manet...

Um Bar no Folies Bergère: (ilustração: Gênios da pintura, vol. V).
Há um enquadramento perfeito nessa figura de uma moça, Suzon, amiga do artista, atendente do bar em questão. Podemos imaginar uma linha vertical que corre desde o rosto, descendo até o último botão de sua roupa. Por trás dela vemos no espelho que o bar está cheio, noite de diversão. Vemos os pés de um acrobata, à esquerda no canto superior; esse tipo de atração era comum em tais locais. À esquerda do ombro de Suzon há uma mulher com binóculos, simbolizando o ambiente (ver e ser visto). Porém os tons escuros usados pelo pintor, assim como seu olhar triste, cansado e sua quietude, quase imobilidade, nos revelam certa atitude de tristeza e cansaço do próprio autor da obra, mediante a vida. No meio do entretenimento de outros, a tristeza e solidão da jovem. Refletido no espelho, de costas, seu vulto e o de um senhor. Seria o artista? Pela lógica, o reflexo de Suzon não apareceria nesta posição. Sua pose é diferente da pose da moça que nos olha de frente. Muitas vezes as obras de arte só fazem sentido se olhadas no nível poético. Este homem estaria no lugar que ocupamos, como observadores da obra. Ela poderia estar imaginando a presença desse homem, ou lembrando-se de alguém que ali esteve em outra ocasião, falando com ela. Talvez um amor que a tiraria dali. O reflexo do balcão no espelho divide a cena com perfeição. Há vários pontos de luz tais como os círculos brancos nas colunas, o lustre de cristal, o peito da jovem e seu rosto, o balcão. A luz elétrica começava a se tornar popular, e Manet a registra com encantamento. O tom quente das frutas na fruteira traz um pouco de alegria à cena. Além de seu olhar amortecido, uma referencia ao álcool, também entorpecimento, esquecimento. A garrafa da esquerda trás a assinatura do artista. As duas singelas flores em primeiro plano remetem ao feminino, à delicadeza. A jovem parece dizer: ”este não é o meu lugar”. Estando de costas para o espelho, é como se ela estivesse de costas para si mesma, já que o espelho somos nós, é o auto-conhecimento, a busca por nossa essência. A vida flui no bar; e a moça não participa, é uma espectadora alheia à alegria. Apesar do tema melancólico, há harmonia na composição.

Bonnard – “Nu ao Espelho” (ilustração: www.moma.org/exhibitions/1998/bonnard/paintings/ba1_left.html) ou (Gênios da Pintura, vol. VI)
Pierre Bonnard era amigo de Toulouse-Lautrec e como outros impressionistas, gostava de arte japonesa. Fazia litografia e ilustrações. Pintou muitos nus e outros quadros com espelhos. Tem um olhar emocional, que se reflete nas cores que escolhia para suas obras. Há uma tranqüila intimidade nas cenas que pintou. Tinha um estilo próprio, forte e marcante. Fazia parte de um grupo de artistas chamado “Nabis”. O forte amarelo desse quadro mostra alegria, junto com o laranja, cor quente, como se a cor nascesse da carne e se infiltrasse em toda a atmosfera. Entramos no quadro pelo espelho, é onde a obra capta nosso olhar, nos conduzindo pelo recinto. Há inúmeros objetos na cena, mas não há nenhuma imagem da mulher no espelho. Aliás, há dois espelhos em cena. Não há indícios eróticos no corpo nu. É inocente, ingênuo. Não há tentativa de aperfeiçoar este corpo. Aparece como é. A mulher está totalmente integrada ao ambiente, e sua intimidade nos é exposta pelo artista com delicadeza. Não nos sentimos invasores da intimidade alheia. A arte pura não devassa a vida de ninguém. Sentimentos são preservados aqui.

Menzel – “A Sala da Sacada” (ilustração: Coleção: História Universal da Arte, vol. 3, pg.152) ou).
Adolf von Menzel era um pintor alemão, realista.Viveu de 1815 a 1905. Queria como os outros realistas, ser fiel à configuração do “real”.
Aqui o tema é a própria sala e a luz, que entra pela sacada, com suas portas abertas, sugerindo um mundo lá fora, liberdade, vida, ar. Não há pessoas na sala. O espelho reflete o que não podemos ver. Tomamos conhecimento de um sofá, um quadro. O vento sacode os cortinados, trazendo a legítima sensação de frescor. É um quarto de intimismo luminoso. Os tons das cores são suaves, transmitem tranqüilidade, paz. Dá vontade de aí estar. É convidativo, aconchegante. A textura é perceptível, principalmente se observarmos o tecido da cortina. A luz “faz” a cena. Ao mesmo tempo, a ausência de pessoas nos faz pensar em vazio, “não-ocupação”, ou até mesmo solidão. Um quarto vazio pode ser indicativo de uma alma vazia. Mas não há sentimento triste, ou negativo aqui. É um quarto alegre, e indica uma classe social privilegiada. Por um outro ponto de vista, pode-se ter a impressão de que, na verdade, essa sala é bastante usada, sendo que apenas nesse momento não há ninguém aí... Podem ter acabado de sair...
“Um momento sublime na vida de um ser humano...
O refletir sobre nós próprios... olhar o infinito...
Perceber que na vida, existem momentos e atitudes
Que nos mudam interiormente para sempre...
É como o reflexo de um espelho...
Quando assistimos, ou vivemos algo intenso...
Visualizamos de fora para dentro
E sentimos de dentro para fora”.(autoria:SCSCoutinho)

PONTES NA PINTURA

PONTES NA PINTURA
Eliana R. da Cunha Miranzi

O que é uma ponte?
Construção que liga, une, atravessa, passa sobre as águas; pontes levam de um lado a outro, de um mundo a outro, ligando o “aqui” e o “lá”, o conhecido com o desconhecido. Podem ser feitas de materiais diversos, tais como a madeira, o ferro, o concreto. Podem ser construídas por motivos diversos, mas sempre com o mesmo objetivo: servir de passagem.
A ponte simboliza a ligação, a possibilidade da travessia, a facilitação para superar obstáculos.
Usando esse referencial em nossas vidas, podemos ser pontes, facilitando nossas travessias ou as dos que nos cercam. Podemos “construir pontes” que nos levem, e a outros, a lugares mais aprazíveis, ou a possibilidade de continuar uma longa caminhada. Podemos conservar as pontes que encontramos à nossa frente, após atravessá-las, ou derrubá-las, dificultando o caminho dos que virão depois. É nossa a escolha.
Travessia de pontes simboliza novas vidas, novas possibilidades, novos encontros. Também superação, avanço, cruzar fronteiras, enfrentar barreiras. Do outro lado o novo, o desconhecido, o diferente.
Se posso ser ponte, que tipo de ponte quero ser?
Se posso construir pontes, como desejarei fazê-las?
Sou ponte em meus relacionamentos?Sou vínculo ou crio vínculos? Uno?
Facilito comunicações? Permito travessias?
Faço uso de alguma coisa como ponte entre meu eu exterior e minha alma?
Uma ponte serve para encurtar caminhos... E eu? Encurto caminhos?

Há pontes milenares que não desabam; há pontes artísticas e belas; pontes que já foram reconstruídas várias vezes. Isto deve nos dizer alguma coisa...


Na arte há grande número de representações de pontes, indicando que essas construções também intrigaram ou encantaram artistas ao longo do tempo.
Veremos a seguir algumas:


“A Tempestade” de Giorgio Giorgione. (1478/1510) – (Para Entender a Arte, pg.28) Pintor italiano, foi aluno de Bellini em Veneza e colega de Ticiano, a quem influenciou. Pintava afrescos, e pouco restou de seu trabalho. Nas telas, fazia obras pequenas, de atmosfera intimista. Deu um novo tratamento às paisagens, tornando-as “verdadeiros poemas visuais”. Aqui vemos à beira d’água uma jovem amamentando uma criança. Tem sobre os ombros um manto branco. O branco do manto faz nosso olhar percorrer os outros brancos do quadro. Luz. A cidade ao fundo parece quieta, já a espera da tempestade que se anuncia. A ponte liga a cidade dividida pelo rio. Rústica, de madeira, simples. No rio, o reflexo do raio que podemos ver no céu. A vegetação é variada e de intensa tonalidade escura. À esquerda, vemos duas colunas quebradas, talvez significando vidas interrompidas. O jovem em primeiro plano observa a mulher e trás consigo um cajado. Caminhante? Forasteiro? Seu companheiro? O olhar da mulher é direcionado ao observador e não ao rapaz. O quadro nos dá a impressão de que o mundo está parado. A jovem mãe não parece preocupada em proteger-se da tempestade que se aproxima. Enfim, o quadro trás tranqüilidade, apesar do nome.

Vista de Delft”- Joannes Vermeer.(1632/1675)) Pintor holandês, morava em Delf. Cidade cortada por canais e famosa por sua porcelana. Seu quadro, retratando esta cidade mostra um lugar tranqüilo e belo. A ponte é feita de pedras e sugere segurança, firmeza, solidez. Ela parece totalmente integrada na cidade. O casario em tons de marron-avermelhado é bem típico de seu país. A luz vinda do alto faz com que as edificações reflitam-se na água, que, por sinal tem um brilho alegre. Ao fundo, na linha do horizonte podemos notar cúpulas de igrejas. Em primeiro plano, um barquinho e poucas pessoas. É de manhã. Ainda não havia o movimento habitual dos mercados e praças. Numa das torres, o pintor marcou a hora: O7:10. Esse quadro foi considerado como o primeiro impressionista antes do impressionismo. Espaço e luz, além da cor, são elementos essenciais para Vermeer. Porém sua obra é silenciosa. Esse é um quadro que trás serenidade e fala de um tempo de paz.

“Campo de São João e São Paulo”- Giovanni Antonio Canal ( Canaletto) (1697/1768) – (Gênios da pintura, vol. IV) Nascido em Veneza, pinta apaixonadamente sua terra natal. É profundamente admirado pelos ingleses, e deles é a maioria de sua clientela. Porém, ao ir para a Inglaterra como pintor convidado, para fazer paisagens inglesas, essas não agradam muito aos britânicos. Diziam que seus temas ingleses eram sombrios. Canaletto tinha um sobrinho, também pintor, que adotou o mesmo nome, aproveitando-se da fama do tio, para vender seus quadros na Alemanha e Polônia. Vemos o casario veneziano à beira do canal, poucas pessoas em movimento, sugerindo um horário de tranqüilidade. Veneza era cidade de mercadores e muito movimentada, normalmente. A graciosa ponte arqueada faz parte da paisagem com naturalidade, e trás a sensação de integrar os dois lados da cidade. Pertence ao lugar. É como se ela estivesse ali desde sempre. Há muita luz à direita, batendo no prédio maior, a Igreja, e sombreando parte do edifício vizinho. As pessoas, os barcos se integram com harmonia à paisagem. O ambiente é tranqüilo. A arquitetura de Veneza é bastante característica e Canaletto a retratou com maestria.

"Incêndio na Câmara dos Lordes”- William Turner – (1775/1851) (Gênios da Pintura, vol.V) - Pintor inglês, deixou em testamento para o governo de seu país 300 telas e mais de 20.000 aquarelas. Sua vida coincide com o auge da Revolução Industrial, portanto com a urbanização crescente do país. Foi precursor do impressionismo, pois suas telas são manchas coloridas, mostrando um redemoinho de luzes, e não têm as características das paisagens convencionais. Dizia que sua obra era um todo ininterrupto. Este quadro do incêndio é típico de Turner. Emoção e sentimento. O fogo se alastra em tons de vermelho e amarelo, com a ponte dominando a paisagem, iluminada pelas chamas. Quase não conseguimos saber se o fogo está mesmo na água ou se só refletido nela. As casas do Parlamento são uma mancha fantasmagórica, encobertas pela fumaça. A luz parece vir do fundo do centro da tela. O pintor captava as impressões da natureza, com ênfase à dramaticidade e à catástrofe naturais. É o rio Tâmisa, em Londres. É já quase abstrata essa obra de Turner. Dizem que o artista estava chegando a Londres, quando se deu o incêndio e no mesmo dia esboçou duas telas com esse tema.



“A Ponte Romana em Narni”; “Ponte de Nantes”; “O Tibre no Castelo Santo Ângelo em Roma”; “A Ilha de São Bartolomeu em Roma” – Camile Corot – (1706/1875) (Gênios da pintura, vol. V). Pintor francês, generoso amigo de Daumier e Millet, a quem muito ajudou, assim como a seus modelos. Suas paisagens, além de mostrar a natureza, mostram também o vigor do artista e suas emoções. Vai à Itália em busca de conhecimentos sobre pintura. Mostra suas produções mais acadêmicas e esconde as obras em que ensaia novas técnicas e estilo. Muito influenciou os impressionistas.

A Ponte Romana:Tons de verde, ocre e azul. Integra as ruínas à atmosfera atual, não deixando marcas de fatos históricos. Trás emoção. As ruínas da ponte falam de um tempo já ido, em meio à beleza da curva do rio, da vegetação e horizonte montanhoso. A luminosidade da água faz um ponto de luz, apesar de ser tão pouca. Corot era um mestre da luz e cor, sendo, portanto, citado como mais um inspirador dos impressionistas.

-A Ilha de São Bartolomeu: aqui a água dá às coisas um sentido real. Esse maciço de edificações, emoldurado por duas pontes, tendo a cidade ao fundo à direita, pode nos fazer pensar em saídas... Sempre há saídas, seja por um lado como por outro. Opções diferentes. São pontes sólidas, pesadas, com belos arcos simétricos, passando a idéia de equilíbrio. Os reflexos na água trazem mais profundidade ao quadro. Há luz no céu, na base esquerda da construção e muita luz passando por debaixo dos arcos das pontes. Pontes duplas: ir e vir, entrada e saída, chegar e ir embora, enfim: opostos.

Tibre no Castelo...: É interessante notar que nesta vibrante mistura de cores, Corot parece ir além da paisagem em si. Mostra a força do poder, a importância da História. O Castelo Sant Ângelo, também chamado de “Mausoléu de Adriano” fica ao lado do Vaticano, e há uma ligação entre os dois. Já foi moradia de príncipes e papas, e também prisão. Hoje é um Museu. A ponte com seus arcos, típica da engenharia romana, é ainda decorada com esculturas e continua bastante conservada. No quadro, no entanto, ela parece estar levemente inclinada, sendo que no seu lado esquerdo termina em um muro, onde se encontra uma passagem. Há luz nos céus e na água, que reflete as construções. O anjo no topo do castelo trás a idéia de proteção divina. Na perspectiva em que foi pintada, a ponte simboliza a ligação entre o profano e o sagrado, o mundano e o espiritual.

Ponte de Nantes: As cores aqui têm um efeito especial: parece haver uma bruma, que filtra a luz. Há um estudado uso de geometria no desenho. A força da natureza se revela nas árvores secas, no rio, no céu. A ponte é grandiosa, passando a impressão de força e poder. Parece indestrutível, podendo, portanto nos evocar a imagem de que podemos “fazer” pontes eternas... O ser humano aqui retratado nos parece muito pequeno diante da grandeza da ponte e do ambiente onde se encontra. O toque de vermelho na cabeça remete a um toque de emoção humana. É uma pintura forte, poderosa. Também podemos perceber uma leve brisa que dá movimento às poucas folhas. Há música nessa composição.

“A Ponte de Argenteuil” - “A Ponte Japonesa” – “ O Tâmisa e Westminster”- Claude Monet – (1840/1926) (Os Grandes Artistas, vol. “Impressionistas”) (www.allaboutarts.com.br) ( Gênios da Pintura, vol.V).
Pintor impressionista francês, mestre da emoção. Frases do artista: “Eu pinto como um pássaro canta”, e “Não se fazem quadros com doutrinas”. Por causa de seu quadro: “Impressão: Sol levante”, é que apareceu o nome “Impressionistas”. Pintando sempre ao ar livre, mostra-se apaixonado pela luz, pela cor, os reflexos das coisas na água, a liberdade de criação. Morou um tempo em Londres, retornando depois ao seu país de origem. Ao comprar uma propriedade em Giverny, faz um jardim com lago, de onde saem talvez suas mais belas obras. Monet vai, ao longo da vida, suavemente diluindo as formas de seus desenhos. Ao fim de sua carreira, as “Ninféias” muitas vezes já são quase abstrações: dissolvem-se em meio aos reflexos e à mistura de cores.

“A Ponte de Argenteuil” - Esta tela é tipicamente impressionista. Há luz e efeito de cor. Seu tema é a ponte, mas a luminosidade da água nos convida a passear os olhos por todo o quadro. Os barcos à esquerda trazem a idéia de repouso. A luz incide na torre ao fim da ponte, como a sinalizar o caminho. A vegetação e a casa são acolhedoras. É uma tela tranqüila, serena. A ponte de pedras é alta, majestosa, imponente. Trás a idéia de segurança, mas nesta perspectiva em que foi pintada, também sugere que não se passe dali para frente. Ela é como uma barreira isolando esse lugar do resto do mundo.

“A Ponte Japonesa” – Pintada várias vezes, essa pontezinha existia em seu jardim. Dependendo do horário do dia, do clima, e da incidência de sol, os tons do lago e da vegetação variavam e Monet registrava essas mudanças. É uma ponte poética, magistral. Cheia de sentimentos, enquadrada com perfeição na tela, trás uma simetria que ajuda a passar essa sensação harmoniosa. Belo é o local, bela a composição de Monet. Esta ponte nos convida a visitar o lugar, a buscar seus possíveis segredos, a caminhar pelas prováveis trilhas desse jardim. É emoção pura. Monet, como outros impressionistas, foi influenciado pela arte japonesa: daí a idéia de mandar construir a pontezinha japonesa. Sua curvatura é delicada, assim como o são as cores, as nuances, as luzes. Sugere uma passagem serena, calma, tranqüila.

“O Tâmisa e Westminster” - Estando longe de seu país natal, refugiado com a família, devido à uma guerra, na brumosa e nevoenta Inglaterra, Monet mostra claramente seus sentimentos nesse quadro: Tudo cinza, pouca luz, saudades do sol. A ponte, apesar de quase encoberta pela névoa, ainda assim é bela, mas parece distante, afastada, difícil de alcançar. Os barcos dão um tom de vida e movimento ao quadro, as silhuetas das casas do Parlamento são belas, porém o clima geral é de nostalgia. Monet, com sua paixão pela água, se aproveita do rio Tamisa para deixar passar um pouco de luz.

A Ponte de Hampton Court – Alfred Sisley (1839/1898) (Gênios da Pintura, vol. V). Nasceu na França, embora filho de pais ingleses. Viveu na França, mas passou temporadas na Inglaterra. Foi colega de Monet e Renoir. Suas telas mostram que o pintor admirava a vitalidade da natureza. As paisagens, sobretudo com rios, o fascinavam. Apesar de todas as dificuldades que encontrou na vida, Sisley passa alegria e vivacidade em suas pinturas. A ponte aqui tem grande intensidade de luz, cores e movimento. A imagem é colocada em forma de “X” na tela. Céu e água fecham as partes de baixo e de cima do “X”. À esquerda, temos a ponte com seu fundo tomado pelo casario. A construção da ponte é romântica, assim como é alegre a pintura das casas. Do lado direito, um gramado, a bandeira, como referencia ao país, (Inglaterra) e pessoas se divertindo. Na água, barcos com remadores. É nítido o movimento das pessoas. As pinceladas são longas e fortes. As árvores são poderosas, antigas. O céu de um azul brilhante, alegre. Essa ponte mostra uma alegre travessia, cheia de boas promessas.

"O Sena em Paris” –Camille Pissarro.(1830/1903)-(Gênios da Pintura,vol.V).
Pintor nascido nas Antilhas, filho de um comerciante judeu. Foi mandado para estudar em Paris. Foi amigo de Cézanne, Gauguin e muitos outros impressionistas. Foi considerado o “tutor” da geração que transformou o curso da pintura. A paisagem era comum para os impressionistas, mas Pissarro as enchia de figuras humanas. Buscava restabelecer a relação essencial entre o homem e o ambiente. Suas pinceladas são fortes e deixam marcas na tela. A ponte no Sena mostra em primeiro plano, à direita, três figuras humanas observando o rio, de cima de um balcão ou terraço.Suas roupas têm forte colorido.A ponte atravessa a pintura de lado a lado, com um lindo traçado, cheia de força e poesia. Barcaças e canoas são vistas no rio. À direita, na margem, o artista colocou uma grande fileira de árvores, provavelmente choupos, comuns na França, e muito apreciados pelos artistas. Por detrás dos choupos, podemos vislumbrar os tetos e chaminés dos prédios de Paris, até mesmo uma igreja. Pela coloração da vegetação deduzimos que é outono. O colorido é suave, brilhante, alegre. A travessia, aqui, podemos dizer que seja possível a todos, sem distinção.

“A Ponte de L’Anglois”- A ponte do Sena em Asniéres – Vincent Van Gogh (1853/1890) – (Os Grandes Artistas, vol. Impressionistas) Nosso holandês usou esta ponte em vários quadros, mudando a perspectiva e as cores. Lembra uma pintura japonesa. Nesta versão, ele usou seis cores criando assim, uma cena viva: as margens e árvores em laranja, céu e água azuis, o capim recebe tons avermelhados e marrons. No grupo de lavadeiras, ele introduz um pouco de preto e branco. São imponentes os dois maciços de tijolos que seguram a parte levadiça da ponte. E esta parte tem leveza e graciosidade, dentro da simplicidade da montagem com madeira. Nosso olhar busca o reflexo do maciço de tijolos na água. A carroça atravessando a ponte mostra uma vida simples, do campo, assim como as lavadeiras, que dão movimento ao quadro. O céu é chapado, diferentemente de outras versões. Suas pinceladas são longas e vivas. A travessia proposta por Van Gogh mostra que a simplicidade pode ser uma forma de arte, uma saída dos problemas, assim como um estilo de vida.

A Ponte do Sena em Asniéres: Nada nos resta a dizer sobre o trabalho deste gênio. Apenas observar a delicadeza e beleza desta composição. A predominância dos tons azuis, laranja, amarelo e verde nos aquecem o coração. A perspectiva dos arcos da ponte é perfeita. É uma linda travessia. Longa, porém prazerosa.

“Moças sobre a ponte”- Edvard Munch – (1863/1944) – (Gênios da Pintura, vol. VI). Artista norueguês, expressionista, tem uma obra perturbadora, cheia de sentimentos fortes. A vida de Munch foi marcada por grandes perdas e sofrimento. Isso muito influenciou sua obra. Sua ponte não parece ser uma travessia. Não podemos saber o que vêm as moças. E não sabemos onde vai dar o fim da ponte. Apesar das cores alegres, talvez no fundo do rio haja um demônio. Há algum mistério nessa imagem.