quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

ALMA DE VIAJANTE


 
VIAGENS
O filósofo Michel Onfray divide toda viagem em três tempos.

O tempo ascendente do desejo e dos preparativos da viagem, o tempo excitante da descoberta do novo e do desconhecido e o tempo descendente do retorno ao lar.

A viagem não existiria sem o retorno às raízes e ao lugar seguro. A pessoa sem endereço fixo não é viajante, e sim errante. Nós precisamos ter um ponto fixo para, de tempos em tempos, nos tornarmos viajantes. Somos viajantes porque sabemos que temos nesta terra um lugar onde retornar com as malas e as lembranças.

Após a viagem e seu movimento frenético, após o uso máximo das nossas capacidades físicas, intelectuais e emotivas, precisamos do retorno e do repouso para recuperararmos as forças e energias gastas.

Precisamos reencontrar nossa cama, nossos livros, papéis e canetas, nosso cotidiano ritmado e organizado. Após os sobressaltos, alegrias e surpresas do percurso, nossa casa se torna um desejo manifesto.

Mas quando voltamos, já não somos os mesmos. Porque retornar significa voltar de algum lugar, com outro estado de espírito. O tempo excitante da viagem é substituído pelo tempo descendente da assimilação lenta de tudo que vimos, provamos, tocamos, sentimos.

No tempo descendente do retorno, durante o repouso do cansaço da viagem, amadurecemos a experiência . O que descobrimos sobre o estrangeiro? E o mais importante, o que descobrimos sobre nós mesmos?

Nesta hora organizamos nossas lembranças. Qual foi o melhor momento? Qual a pior lembrança? Quais as comparações entre os lugares percorridos e nosso quotidiano familiar? Quais nossas certezas e incertezas.

O retorno, para nós, é a garantia de que daqui a pouco partiremos de novo.

Onfray, Michel. Théorie du voyage. Poétique de la géographie, Le Livre de Poche.

                                                        NORMAN ROCKWELL-USA- 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

JUNG MANDA RECADO...


UM TRECHO ONDE JUNG FALA DA ANIMA E DO ANIMUS;

..."DECIFRAR A ANIMA É UMA OBRA PRIMA QUE POUCOS CONSEGUEM REALIZAR.
ANIMA É A IMAGEM ANÍMICA DE UM HOMEM, REPRESENTADA EM SONHOS OU FANTASIAS POR UMA FIGURA FEMININA.ELA SIMBOLIZA A FUNÇÃO DO RELACIONAMENTO.ANIMUS É A IMAGEM DE FORÇAS ESPIRITUAIS NUMA MULHER, SIMBOLIZADO POR UMA FIGURA MASCULINA. SE UM HOMEM OU UMA MULHER NÃO TÊM CONSCIÊNCIA DESSAS FORÇAS INTERIORES, ELAS APARECEM EM UMA PROJEÇÃO."
(CITADO NO LIVRO:CARL JUNG-CURADOR FERIDO DE ALMAS, DE CLAIRE DUNNE, EDITORA ALAÚDE.)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

AS TAREFAS DA ALMA



                                     
                                                                     AGENDA
                                                 AFFONSO ROMANO DE SANTANA




Toda manhã

anoto uma lista

de coisas por fazer:



contas a pagar

cartas, e-mails, telefonemas

carinhos que responder

livros, palestras, entrevistas

ginástica, compras

remédios, terra, flores

consertos domésticos

desculpas, culpas

livros que ler e escrever.



Olho o que arquivo:

- o ontem só cresce

não há pasta que o contenha.

Melhor seria dissolvê-lo

ignorá-lo sem etiqueta

sem tentar decodificá-lo

entendê-lo.



Vai começar a girândola

de um novo dia.

Ponho o sol na alma

vejo da janela

- a lagoa e o mar.



Olho o presente, o futuro.

Mas o passado, que não passa

como agendar?



Affonso Romano de S'Antanna, in Sísifo desce a montanha, ed. Rocco.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

DE QUE SOMOS FEITOS....


O QUE SOMOS NÓS....DE QUE SOMOS FEITOS...
ELIANA MIRANZI.

"SOMOS FEITOS DA MESMA MATÉRIA DE QUE SÃO FEITOS OS SONHOS". ISSO DISSE SHAKESPEARE.
VAMOS COMPLETAR COM O CORAÇÃO:
-MATERIAL IMPALPÁVEL, NÉVOA, NUVENS, AR E MAR, VENTO, LUZ E SOMBRA.
-IMAGENS, FANTASIAS, IMAGINAÇÃO, FLUTUAÇÃO, IRREALIDADE, O QUE NÃO É, AQUILO QUE AINDA SERÁ, O QUE JAMAIS FOI, SOMOS NÓS E NOSSOS SONHOS...
-O INTANGÍVEL, IMPROVÁVEL,FUMAÇA DOS CÉUS, REFLEXOS,FAGULHAS, FOLHAS AO VENTO.
-DESEJOS DOS DEUSES, BRINQUEDO DOS ANJOS.
-INCONSCIENTES  EM BUSCA DE MORADIAS,
- ALMAS À PROCURA DE ABRIGO.
-NEBLINA NAS MONTANHAS, VAPORES DE LAGOS,
-ESSENCIAS DAS MATAS, FRUTOS DAS CHUVAS.

FEVEREIRO/2013.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O VAZIO E A ALMA


                                                           VINCENTE VAN GOGH

Encomenda
Cecília Meireles  

Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.