terça-feira, 31 de maio de 2011

CRIANÇAS NA ARTE

CRIANÇAS NA ARTE
Eliana Miranzi
Seja como tema central, seja como complementação de qualquer outro tema, as crianças sempre foram muito retratadas em todas as formas de arte, como podemos ver em todas as épocas, na pintura e escultura, por exemplo.
Aparecem em pinturas sacras representando o Menino Jesus, os Anjos (nossos guias, nossos protetores) e outras figuras dos textos sagrados.
Aparecem em pinturas e esculturas mitológicas como Eros/Cupido.
Na pintura histórica temos vários filhos de nobres retratados na infância, assim como temos crianças em quadros com temas do cotidiano (pintura de gênero).
Algumas vezes crianças são usadas em obras com os mais variados temas, como símbolos de algo que representam. Crianças simbolizam vida nova, esperança, futuro. Também podem simbolizar a pureza, a inocência, o novo, “aquilo que ainda não se realizou”, que está por vir a ser, ou acontecer. Podem, por outro lado, representar nossa mais íntima ligação com o Sagrado, com o Criador. Talvez por representarem também o “antes”, o início da criação, o nosso começo.
Imagens de crianças nos provocam um sentimento de afeto, de simpatia e muitas vezes nos fazem sorrir. É um sentimento doce, ocasionalmente nostálgico, sempre positivo; no sentido de que, mesmo que o tema envolva situações tristes, nos despertam a compaixão. Não ficamos indiferentes diante de uma imagem de uma criança.
Há em cada um de nós uma criança guardada lá no fundo do coração, da memória. A criança que já fomos ainda mora dentro de nós e se identifica e se reconhece ao observar uma imagem de outra retratada na arte.
O que nos provoca esse sentimento?
Por que somos tocados por cenas que contêm crianças, seja na pintura e escultura, na literatura, teatro, dança?
Que poder é esse que possuem tais imagens?
O que há no olhar de uma criança, que tanto nos toca?
São questões a serem respondidas por cada um de nós.
A seguir, algumas obras e referências a seus autores.

O VELHO E A CRIANÇA
DOMENICO GHIRLANDAIO – 1449/1494
Renascentista italiano, veio de uma família de pintores florentinos. Receberam este nome, pois faziam coroas, guirlandas em ouro e prata para adornar cabeças de homens e mulheres. Domenico também fazia mosaicos e afrescos. Tinha um grande número de discípulos, entre eles Michelangelo Buonarotti. Trabalhou um período em Roma, mas sempre viveu em Florença. Tinha um estilo conservador, nada inovador, mas agradava os fregueses comerciantes. Este quadro mostra calma, um ar doce e harmonioso. A paisagem serve como detalhe decorativo e também ilumina o quadro. Há um caminho, uma subida nessa paisagem, talvez possamos pensar em nossas escaladas na vida, nossos caminhos. O olhar trocado entre o homem e a criança é intenso. O que vêem um no outro?

HENRIQUE VIII
HANS HOLBEIN, O MOÇO
– 1497/1543
Artista nascido na Alemanha, aprendeu seu ofício com o pai, que tinha o mesmo nome. Morou na Basiléia. Também foi ilustrador. Excelente retratista, foi mais tarde para Londres, onde pintou Henrique VIII, entre outras figuras da corte inglesa.Seu trabalho observa criteriosamente as regras acadêmicas.Nesse retrato de Henrique VIII ainda bem pequeno, vemos uma bela criança que nasce já com seu destino traçado: o trono, que será, pelo que depois mostra a História, defendido com garra, por este homem(esta criança)que se torna um dos monarcas mais complexos de toda a Europa. Cruel, dono de uma personalidade que se revelaria extremamente voluntariosa e ególatra, casa-se por 06 vezes, executa algumas de suas esposas, despreza as convenções e funda sua própria Igreja, rompendo com Roma para poder satisfazer seus desejos insaciáveis. A pergunta é: há já nessa criança do retrato sinais desta personalidade distorcida?

JOGOS INFANTIS
PIETER BRUEGHEL, O MOÇO
– 1564/1638
Pintor flamengo. Seu pai também era pintor. Copiava as obras deste, assim como fazia seus próprios trabalhos com o mesmo tema e estilo. Toda sua família era de artistas. Pintavam cenas da vida cotidiana dos camponeses, episódios da Bíblia, provérbios, crianças brincando, etc. Muitos de seus quadros são cheios de personagens e podem ser entendidos como uma leitura de um texto. Os Brueghel foram influenciados por Hieronimous Bosch, também flamengo, que viveu um pouco antes deles. Mais tarde, os Surrealistas, por sua vez, confessaram sua admiração por Bosch. Em cada uma das pequenas cenas retratadas aqui nesta obra, Brueghel mostra crianças brincando, da maneira como faziam em seu tempo. É um relato da infância, uma reportagem de uma época. O quadro é intensamente povoado por incontáveis personagens. Seriam todos eles habitantes da memória ou da psique do artista?

DÉBORA E SUAS CRIANÇAS
PETER PAUL RUBENS
– 1577/1640
Pintor do período barroco, nasceu na Alemanha. Morou a maior parte de sua vida na Bélgica (Flandres e Antuérpia). Viajou pela Itália e serviu como diplomata indo à Espanha, Inglaterra e França. Era muito culto, instruído.
Também pintava cenas religiosas e retratos. Seu atelier contava com dezenas de artistas, tais como Brueghel e Van Dyck. Ficou famoso em toda a Europa, morreu rico e bem sucedido. Aqui retrata uma mãe com seus filhos, numa cena bastante iluminada e cheia de cores. Um dos filhos tem seu olhar dirigido à mãe, enquanto as meninas olham em nossa direção. O bebê está inquieto, mas a mãe tem uma postura passiva e distante. Na coluna à direita vemos a representação de uma figura meio humana, meio zoomórfica. Símbolo, talvez...mas do que?

AS MENINAS
DIEGO RODRIGUES DE SILVA VELÁSQUEZ
– 1599/1660
Espanhol, deixou cerca de 100 obras. Casou-se com a filha de seu mestre, tendo sido o pintor da corte espanhola, na ocasião da visita de Rubens a este país. A conselho deste visitou a Itália. “As Meninas” é considerado sua obra prima. Há uma pequena reflexão sobre esta obra na série “janelas”, já postada aqui neste blog. Apenas observemos o olhar da menina-princesa, no centro do quadro: autoconfiança, esperteza, plena consciência de seu papel. Já fomos algum dia assim?

JOÃO BATISTA
FRANÇOIS BOUCHER
– 1703/1770
Pintor francês do período Rococó. Seus temas variavam entre mitológicos, imagens pastoris, retratos. Viajou para a Itália onde teve contato com o classicismo. Seus quadros são cheios de teatralidade, sensualidade e requinte. Foi membro da Academia Real da França. Ocupou o cargo de “Primeiro pintor da corte de Luis XVI. A alegoria desse trabalho de Boucher mostra bem o que foi o estilo Rococó. Há aí uma “festa infantil”, tendo João Batista e Jesus menino como foliões principais, em meio aos anjos. Suavidade, delicadeza.

GILBERT CHARLES STUART- 1755/1828
Norte Americano, teve um professor escocês, com quem vai para a Escócia terminar seus estudos. Voltou aos EE.UU., onde foi retratista; mas com a Revolução Americana desiste de ficar em sua pátria e vai para Londres, onde chegou a expor na Royal Academy.
Voltando aos EE. UU. retratou grandes figuras, tais como George Washington. Tinha uma vida financeira confusa, apesar de ter bons rendimentos, o que quase o levou à prisão por dívidas. Deixou cerca de 1.000 retratos. Nesse retrato de família, as crianças estão felizes, bem cuidadas e bem vestidas, faces rosadas, sorridentes. Tudo está bem... Até o cão. Cena montada, como em teatro.

SIR THOMAS LAWRENCE – 1769/1830
Inglês, retratista, fez quadros para a família real inglesa. Foi reconhecido por seu talento, viajou por todo o continente europeu, tendo recebido condecorações de várias casas reais. A beleza e a pureza desta obra nos toca, emociona. O olhar da menina é puro brilho, há uma suavidade, alegria e doçura ímpar neste quadro. Harmoniosa e iluminada, essa pintura encomendada por uma família, mostra bem o talento deste homem. Onde anda o brilho que deveria haver em nossos olhos?

MÃE E FILHA
ALBERT ANKER
– 1831/1910
Pintor e ilustrador suíço. Estudou Teologia, mas optou pela Arte. Mudou-se para Paris onde estudou na Escola de Belas Artes. Viajou pela Itália e foi um grande retratista de crianças.

A FERROVIA
EDOUARD MANET
– 1832/1883
Francês de família burguesa, cresceu com os privilégios desta classe social. Mas escolheu tornar-se artista. Aos 17 anos de idade embarca num navio mercante à trabalho e chega ao Brasil. Retorna alguns meses depois impressionado com o que viu. Foi um dos mais marcantes pintores de sua época, amigo dos impressionistas. Manet dá vida através da luz, movimento através das formas de seu desenho, “escreve um texto a pincel”.
Sua grande batalha foi ser aceito nos salões de exposições, apresentando obras que não respeitavam as regras acadêmicas. Foi o precursor da arte moderna.


CRIANÇAS
DEGAS
– 1834/1917
Gravurista, pintor e escultor francês. Veio de uma família da alta burguesia. Estudou na Escola de Belas Artes de Paris. Viajou à Itália para estudar os renascentistas. Era amigo de Manet e tinha Ingres como seu ídolo. Esteve por cinco meses nos EE.UU.(New Orleans). Gostava de desenhar cavalos, bailarinas, retratos de famílias. Degas brinca com seus retratados, usa o exagero, o insólito, ao mesmo tempo em que é capaz de enorme poesia. Aqui, num jogo de luz e sombra, paira no ar certo mistério, provocação do artista.

MENINO DE COLETE VERMELHO
PAUL CÉZANNE
– 1839/1906
Natural do sul da França, considerado pelos cubistas como: “o pai de todos”. Foi influenciado por Delacroix. Via na natureza formas geométricas como o cone, o círculo, a esfera. Pintava temas variados, sobretudo naturezas mortas e paisagens. Era amigo do escritor Zola e de Pissaro. Por causa de sua escolha pela arte, rompeu com o pai e foi viver uns tempos em Paris. Era dado à depressão. Teve um filho com Hortense, seu amor parisiense, chamado Paul, mas só o reconheceu após a morte do pai. Manteve mulher e filho em segredo para sua família por muito tempo. Neste menino, o artista abusa de seu talento, exagera nas cores, destaca o olhar da criança, e mostra bem seu estilo, sua ousadia.

MENINA AZUL
AUGUSTE RENOIR
– 1841/1919
Nascido em Limoges, França, pintou porcelanas na conhecida fábrica desta cidade. De família modesta, era amigo de Sisley, Monet, e Bazille, com quem pintava ao ar livre. Mudou-se para Paris, onde estudou na Escola de Belas Artes. Tinha como objetivo fazer uma arte agradável aos olhos. Viajou pela África e Itália em estudos. Casou-se com Lise Tréhot, sua modelo, com quem teve seus filhos. Entre eles, Jean Renoir que se tornou famoso cineasta. Renoir teve artrite no fim de sua vida e pintava com os pincéis amarrados ao pulso. Toda a sua obra é doce, suave, não agride, e passa certa inocência ou ingenuidade, talvez.

BALANÇO
BERTHE MORISOT
– 1841/1895
Francesa, neta de Fragonard, o grande pintor do período Rococó.
Sua mãe colocou-a e à sua irmã para estudar pintura. Berthe gostava de pintar cenas domésticas com crianças e mulheres em atividades variadas. Era amiga de Manet, junto a quem pintava e casou-se com seu irmão, Eugene. Viajou por vários lugares da Europa a estudos. Sua casa em Paris era local de reunião de artistas, escritores, poetas. Sua pintura é enormemente feminina, doce, suave. Berthe Morisot teve força bastante para entrar para a história da arte em um mundo que excluía as mulheres.

CRIANÇAS
MARY CASSAT
– 1844/1926
Americana de família influente, viveu em Paris e ao retornar aos EE.UU. Muito influenciou seus conterrâneos em relação à aquisição de obras dos impressionistas. Fica cega por diabetes a partir de 1915. Solteira e sem filhos, pinta, no entanto, muitas cenas domésticas. Foi uma mulher forte, apaixonada pela arte e fez dela sua vida. Sua obra é repleta do “feminino”.

DEPOIS DO BANHO
PAUL PEEL
– 1860/1892
Natural do Canadá, era filho de um professor de desenho e escultor. Estudou nos EE.UU. e França. Morando em Paris, fazia muitos estudos, desenhos e pinturas de crianças. Foi exímio no uso da cor e luz. Casado com uma pintora, teve um casal de filhos que lhe serviam de modelos. Acadêmico com fortes propensões impressionistas, teve seus trabalhos exibidos e reconhecidamente premiados. É o mais conhecido pintor canadense na Europa. Mostra senso de humor, leveza e alegria, em suas cenas domésticas.

MENINA DA SOMBRINHA
ESTHER ANNA HUNT
– 1875/1951
Americana, focou seu trabalho em temas orientais inspirada em imagens da Chinatown de San Francisco, onde morou. Financiou seus estudos vendendo suas pinturas. Estudou também na Europa e em Nova York. Sua escolha por temas orientais na América da época em que viveu, indica sua força de caráter, seu sentimento de liberdade e segurança em suas próprias opiniões.

MATERNIDADE
ELISEU VISCONTI
– 1866/1944
Nascido na Itália, vem muito jovem para o Brasil. Aqui estuda e recebe bolsa para completar sua formação na França. Tem aulas acadêmicas, mas opta por seguir o estilo impressionista. Casa-se com a francesa Louise, também pintora, com quem vive até o final de sua vida. Tiveram 3 filhos. Sua obra abrange todos os tipos de temas, e é impregnada de sentimento e romance. Foi responsável pela decoração de partes do Teatro Municipal do R. de Janeiro.

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