terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FILOSOFIA



As ideias e as formas de Platão

Conheça as ideias de Platão, o filósofo que marcaria para sempre nossa forma de enxergar o mundo
José Francisco Botelho
Platão
O elo central do grande pensamento grego, entre Sócrates e Aristóteles
Discípulo de Sócrates, mestre de Aristóteles, Platão é o elo central do pensamento grego - o eixo que articula um dos períodos mais intensos e produtivos na história da mente humana. É graças às obras de Platão que conhecemos as ideias de Sócrates; e foi com base nas teorias platônicas (e muitas vezes para contrariá-las ou corrigi-las) que Aristóteles elaborou grande parte de sua filosofia.
Um aristocrata do espírito

Com cerca de 16 anos, o belo e belicoso Arístocles deparou, nas ruas da cidade, com um sujeito esfarrapado como um mendigo, mas dono de uma sabedoria hipnótica. Sempre cercado de ávidos ouvintes, aquela espécie de eremita tagarela - que respondia pelo nome de Sócrates - entregava-se diariamente a debates públicos, questionando seus interlocutores sobre o real significado de palavras aparentemente comuns - como Amor, Justiça, Verdade.

Durante os 12 anos seguintes, Platão foi o discípulo mais fervoroso de Sócrates - até a morte do mestre, em 399 a.C.. Amargurado com a perda, Platão partiu em uma viagem de 12 anos pelo mundo. Perambulou pela Grécia e pela atual Turquia, visitou o Egito e a Itália, e talvez tenha andado pela Judeia e pela Babilônia. Bebeu na fonte de diversas culturas e retornou a Atenas aos 40 anos de idade, decidido a continuar a missão filosófica de seu professor. Para isso, fundou a Academia, uma escola gratuita de filosofia e matemática, considerada por muitos como a primeira universidade da história. Até sua morte, em 347 a.C., ele viveu debatendo com seus discípulos e compondo suas obras – os Diálogos, textos em que as mais variadas questões filosóficas são apresentadas na forma de debates entre personagens famosos da antiga Atenas.

Uma grande teoria

A grande teoria platônica da "doutrina das Ideias" é uma espécie de síntese magistral do pensamento antigo. Como podemos afirmar qualquer coisa sobre um determinado objeto, se a constante mudança do universo é mais rápida que nossa mente? Eis a charada que a doutrina platônica tenta resolver: o mundo revelado pelos sentidos parece inapreensível, mas precisamos de um fundamento sólido, eterno e universal, para erigirmos o conhecimento seguro (em grego, epistême).

Platão bifurcou a realidade. Todas as coisas que conhecemos por meio dos sentidos são cópias da "verdadeira realidade", que é incorpórea, imutável e eterna: as Ideias ou Formas. De um lado, portanto, há o mundo sensível - que é efêmero, enganoso e impermeável ao conhecimento. Do outro lado, há o mundo inteligível - cuja contemplação é a chave da verdadeira sabedoria.

O mito, enfim

Foi no Livro VII da República que Platão elaborou a alegoria mais célebre da literatura. Na República, Sócrates diz a um discípulo chamado Gláucon: "Imagina uma grande cova subterrânea, provida de uma grande entrada para a luz; e imagina um grupo de homens, presos desde meninos no interior da caverna, amarrados pelos pés, pelas mãos e pelo pescoço; não podem virar a cabeça, e são obrigados a olhar constantemente para o fundo da cova". Incapazes de observar o mundo lá fora, os prisioneiros da caverna veem apenas as sombras que se desenham na parede de pedra - e, acostumados com a própria cegueira, tomam aquelas sombras pela realidade. "Que estranha situação, e que estranhos prisioneiros!", exclama Gláucon. Sócrates replica: "Estranhos como nós mesmos".

Eventualmente, um dos prisioneiros consegue escapar aos grilhões e sair à luz do sol. Inicialmente ofuscado, ele pouco a pouco se acostuma à visão das coisas como elas realmente são. Caso permaneça lá em cima, esquecendo para sempre sua anterior existência de escuridão, ele se tornará um místico; caso retorne às profundezas, para tentar libertar seus irmãos da cegueira existencial, ele se tornará um filósofo. E correrá o risco de ser tomado por tolo ou subversivo: pois a reação natural dos prisioneiros é acreditar que apenas as sombras existem; e o homem que viu a luz, desacostumado às trevas, chegará até eles tropeçando como um inválido.

Platão deixa a questão em aberto, e eis aí uma contradição reveladora: modelo do pensador com aspirações sublimes e com sede pelo absoluto, Platão não nos deixou soluções, mas debates infinitos. Diz-nos ele à distância de séculos: este mundo, que tentamos inutilmente apreender com nossos sentidos e descrever com a linguagem, não é a realidade. E temos de admitir: talvez não seja, mesmo.

LIVROS
O Banquete, Platão, Difel
Um Café com Platão, Donald Moor, Arx
(DO SITE: MDEMULHER E REVISTA VIDA SIMPLES)

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